Política

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Em choque com o choque

O país ficou em choque com a perceção de que, afinal, o grande choque fiscal da AD era um complemento ao outro choque, mas o do PS. Este choque anunciado pela AD faz lembrar quando, em miúdos, púnhamos a língua numa pilha de nove volts, para ver estava carregada. Pelo menos para os salários mais baixos.

Sendo honestos, não podemos estar surpreendidos com o que foi proposto pelo atual governo. Uma devolução de 2,16 euros mensais para quem ganha até 1.000 euros de salário bruto, ao passo que, quem ganha 5.000 euros terá um desagravamento de 42,66 euros. De acordo com a proposta da AD, quem ganha cinco vezes mais do que quem ganha 1.000 euros terá um retorno quase 20 vezes superior. Nada disto é novo. Sempre que a direita anuncia um choque, uma reforma estrutural, um livro branco, já sabemos que quem menos tem e menos ganha, será sempre prejudicado.

Em ponto morto…

Com eleições Europeias à porta, o governo está a empurrar com a barriga uma série de questões que se comprometeu a resolver rapidamente. O suplemento para as forças e serviços de segurança, as carreiras e salários dos trabalhadores do SNS, dos trabalhadores da área da Justiça, bem como a recuperação do tempo de serviço dos professores, que há de vir, faseada em quatro anos, lá para 2025. Pelo meio, apresenta na Assembleia da República um Pacto de Estabilidade e Crescimento que é o do anterior governo. Vamos tendo, quase dois meses depois das eleições, um governo sem maioria que quer esperar pelo Orçamento do Estado de 2025 para resolver problemas que, até dia 10 de março, eram de resolução urgente, havendo mesmo quem avançasse com a possibilidade de ser apresentado um orçamento retificativo para comodar estas reivindicações. Pelo caminho, fica o circo montado em torno da presidência da Assembleia da República, com o governo a demonstrar uma inabilidade chocante, mais a novela em torno do cabeça de lista da AD às eleições Europeias.

… ou em marcha-atrás 

O programa de governo, cuja rejeição apresentada por PCP e BE acabou por ser inviabilizada, prepara-se já para andar para trás no que respeita às questões da habitação. O programa +Habitação era extremamente insuficiente, na sua globalidade, mas tinha, aqui e ali, alguns méritos, por exemplo, no que respeita aos alojamentos de curta duração, fator de enorme pressão para o aumento brutal das rendas. Logo nos primeiros conselhos de ministros, a direita decidiu que o liberalismo que nos trouxe até à situação dramática que vivemos, ainda não é suficiente.

50 anos de liberdade

Enquanto no parlamento a extrema-direita fugia da Grândola, por todo o país preparavam-se os desfiles do 25 de Abril. Outros, os chamados liberais, decidiram desfilar com a palavra de ordem “25 de Abril sempre! Comunismo nunca mais”, demonstrando não só um enorme desrespeito para os que sofreram e morreram às mãos do fascismo, mas também uma tentativa desesperada de reescrever a História, com uma espécie de daltonismo político que os fez usar cravos brancos. Foram tantos os milhares de cravo em punho erguido que encheram praças e avenidas, incluindo na Galiza, onde os nossos irmãos do norte saíram à rua para celebrarem Zeca Afonso e o 25 de Abril, fosse em Santiago ou em Pontevedra. Foi uma tarde de enorme mobilização popular em torno dos ideais de Abril, numa época de agravamento do ambiente político em Portugal. 

As datas redondas

É evidente que meio século de liberdade terá feito com que mais gente tenha saído à rua nas celebrações deste ano. Falta perceber e, provavelmente, só o saberemos para o ano, se será conjuntural ou estrutural. Ou seja, se os avanços da extrema-direita dentro e fora do parlamento despertaram consciências para a necessidade de defender a liberdade e a democracia. Se a consciência de que a liberdade não é um dado adquirido, que agora vemos agora diante dos nossos olhos, fez acordar também as gerações mais novas para aquela frase batida que diz que quem adormece em democracia acorda em ditadura.

O genocídio invisível

Nas comemorações do 25 de Abril viram-se, também, bandeiras da Palestina, onde continua o genocídio promovido por Israel, sem que as potências ocidentais sejam capazes de mexer um dedo para travar os massacres. Nos últimos dias, foram encontradas valas comuns com palestinianos assassinados junto ao hospital de Al-Shifa, o tal que era, como pelos vistos todo o território de Gaza, uma base do Hamas. Da vala comum foram retirados profissionais de saúde ainda com bata vestida e as mãos amarradas. Nos telejornais, já não há clamor, passou para os minutos finais e talvez volte a merecer destaque quando o exército colonial de Israel avançar sobre Raffah. Os mais de 34.000 mortos, mais de metade mulheres e crianças, continuarão esquecidos.

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