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As sondagens conduziram à maioria absoluta?

Durante as últimas semanas de campanha, sucederam-se as sondagens que apontavam para um empate técnico entre o PS e o PSD, algumas antecipando mesmo a liderança do partido liderado por Rui Rio. Há quem diga que isso ajudou o PS a conquistar a maioria absoluta. 

A disparidade entre os resultados saídos das urnas e as diferentes sondagens lançadas nas últimas semanas por várias empresas de estudos de opinião foi uma das grandes surpresas da noite eleitoral. Com sondagens que apontavam para um suposto empate técnico entre o PS e o PSD, boa parte dos analistas assume que foram uma ferramenta para a mobilização de eleitores para o voto útil no PS e, como consequência, para a maioria absoluta. Ao Público, Jorge Cerol, que fez parte do Centro de Sondagens da Universidade Católica Portuguesa, afirmou que “as sondagens anunciavam quase um empate e isso levou ao voto útil no PS por parte de quem não queria correr o risco de voltar a ter um governo liderado pelo PSD. Não fosse isso, se calhar o BE e o PCP não teriam sido tão penalizados”. 

Ao mesmo jornal, António Salvador, da Intercampus, corroborou que “se as eleições fossem hoje, Costa ganharia facilmente, mas sem a maioria absoluta. E a esquerda não seria esvaziada da mesma forma”. O presidente do conselho de administração desta empresa de estudos de mercado recordou que em janeiro saiu um barómetro que mostrava que os portugueses “não queriam dar a maioria absoluta a ninguém”. Desta forma, quando os eleitores perceberam que havia “uma fortíssima probabilidade de o PSD ganhar, a esquerda esvaziou-se”. À Renascença, António Salvador reconheceu que “uma diferença tão significativa não é aceitável” mais do que a qualidade dos estudos preferiu apontar o dedo à “forma de os apresentar” e responsabiliza todos: “quem faz, produz, de quem utiliza e quem comunica”. Para o fundador da Intercampus, as empresas de sondagens não podem continuar a “apresentar sondagens sem referir quem são os indecisos”. É ainda muito crítico em relação à atitude da Entidade Reguladora da Comunicação, a quem acusa de não fazer o seu trabalho. 

Por sua vez, Jorge Cerol assumiu que as sondagens “influenciam, para um lado ou para o outro” mas diz que “sem elas não se pode consegue viver”, relativizando o seu impacto nas eleições. Este professor da Universidade Católica Portuguesa considerou, para além disso, nas declarações ao Público, que terão sido as sondagens a ajudar Costa a mudar de direção: “Se não fossem as sondagens, Costa teria andado até ao último minuto a pedir a maioria absoluta. E, se calhar, não a teria conseguido”. Agora, o centro de sondagens do ICS/ISCTE quer fazer um estudo para entender o impacto da exposição dos eleitores a este tipo de estudos de opinião.

Partidos de esquerda contestam sondagens

Ainda antes das eleições legislativas, o dirigente comunista e mandatário da CDU Bernardino Soares comentava na CNN as sondagens que davam um empate entre o PS e o PSD e alertava para a importância de se relativizar estes estudos. “Devemos relativizar as sondagens como sempre fazemos, elas não votam, quem vota são os portugueses”, adiantou então.

Já durante a noite eleitoral, a coordenadora do BE, Catarina Martins, justificava o resultado, entre outras coisas, com uma “bipolarização falsa e uma enorme pressão de voto útil que penalizou os partidos à esquerda”. Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, afirmou, por sua vez, que “o quadro político e a relação de forças são marcados por um resultado eleitoral, que a partir de uma extrema promoção da bipolarização, beneficiou o PS, apesar da sua postura de fuga às respostas necessárias ao país”. Também nesse sentido José Luís Ferreira, do Partido Ecologista “Os Verdes”, destacou que os resultados eleitorais expressavam também “a bipolarização que foi construída com o propósito muito claro de favorecer o PS e o PSD e que acabou também por retirar a representação parlamentar” a esta força política.

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