Christine Lagarde cumpre à frente do Banco Central Europeu o mesmo papel que quando estava no Fundo Monetário Internacional. E não é incompetente. Durante o período da troika foi a voz mais dedicada na defesa dos interesses dos bancos e dos grandes grupos económicos. Continua a fazê-lo. Como qualquer importante empresa que contrata especialistas em recursos humanos experientes em despedimentos coletivos quando é preciso fazer aquilo a que eles chamam “redução de custos”. São as nossas cabeças que estão no cadafalso e Lagarde foi escolhida para ver se o nó de forca está bem feito.
Diz a presidente do BCE que os trabalhadores da zona euro devem estar conscientes de que se houver aumentos salariais para compensar as perdas de poder de compra sofridas nesta crise, sem acompanhar a produtividade, a economia vai ficar em risco e o BCE terá de subir ainda mais os juros. É uma chantagem inaceitável. Noutros disseram-nos que devíamos apertar o cinto. Nada de novo. Enquanto os grandes grupos económicos e financeiros alcançam lucros extraordinários, o dedo está apontado a quem trabalha. Somos sempre nós que pagamos as crises.
Durante anos tentaram convencer-nos de que a ideologia tinha acabado e que o mundo era dos tecnocratas. Ou seja, não importavam as políticas mas a experiência técnica dos responsáveis pelas pastas para que as nossas vidas melhorassem. O problema é que a ideologia está lá. O modelo económico, social, político e cultural em que vivemos privilegia uma minoria em detrimento da maioria. Não é uma novidade. Quando olhamos para as sucessivas crises das últimas décadas, poderíamos achar que temos sido vítimas de gestores incompetentes. Isto se acharmos que os nossos governantes em Portugal e nas instituições europeias nos estão a representar à maioria. Nada mais longe da realidade. Eles representam os grandes grupos económicos e financeiros. Apesar da pandemia e da guerra, os lucros disparam e os nossos salários miseráveis não sobem. Caminhamos a passo firme rumo ao precipício. Nós. Não eles. Depois da descarada cedência do governo de António Costa aos bancos na questão dos certificados de aforro, fica óbvio. Se entendermos isto, entendemos que os gestores políticos não estão a ser incompetentes. Estão a ser competentes para defender a riqueza e os lucros dos seus representados.