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TAP pública ou um voo no escuro

Liberais e primeiro-ministro manifestam pressa na privatização da TAP, mas Paulo Duarte, secretário-geral do SITAVA, convida-os a fazerem bem as contas dos prejuízos financeiros e humanos que implica a alienação deste ativo, em que o Estado já investiu 3,2 mil milhões de euros. O dirigente sindical garante: “organizado de forma a tornar-se autosuficiente, pode voltar a ser um dos grandes motores da economia portuguesa”.

Na Assembleia da República o primeiro-ministro António Costa foi confrontado com a pergunta de Carlos Guimarães Pinto, deputado da IL, sobre a possibilidade da TAP vir ser privatizada nos próximos 12 meses. “É o que está planeado”, respondeu António Costa. Perante a persistência do deputado no tema e à pergunta se o “Estado conta perder dinheiro com a privatização, Costa respondeu: “Espero que não!”, mas admite que isso “possa acontecer”.

A pandemia, em março de 2020, interrompeu o plano de reversão feita pelo governo de António Costa, quando o acionista David Nielman “saiu por incapacidade financeira” tendo o Estado que negociar a sua saída, “assumindo a quase totalidade do capital”, refere o sindicalista. Paulo Duarte refere que, em 2020, “o governo português submeteu a Bruxelas um plano de reestruturação para salvar a companhia.” O dirigente do Sitava considera que “Bruxelas mitigou as ajudas públicas, obrigando a grandes sacrifícios dos trabalhadores, quase 3 mil postos de trabalho destruídos pela não renovação de contratação a termo e acordos de rescisões por mútuo acordo, aos quais se somaram um despedimento coletivo de cerca de 70 pessoas”. A TAP, que tinha 9 mil trabalhadores a 1 de janeiro de 2020, chegou ao fim de 2021 com cerca de 6500 trabalhadores. “Foi uma destruição maciça de todas as categorias profissionais: pessoal de terra, pessoal navegante, comercial e técnico, tripulantes de cabine e pilotos. Foi um massacre na TAP”, afirma Paulo Duarte.

É verdade que, acrescenta, “desde essa altura, pela voz do próprio ministro, a TAP não poderia mais viver sozinha, desligada de um grande grupo. Mas nós tivemos sempre uma posição contrária, defendemos sempre que a TAP só tinha viabilidade se dependesse de capitais públicos, e que não era forçoso que o Estado tivesse que estar permanentemente a financiar a empresa. A empresa tinha de ser organizada de forma a ser autosuficiente.”

Mas, acrescenta o sindicalista, “esta resposta do primeiro-ministro e a pressa manifestada por alguns provavelmente não contabiliza o verdadeiro custo social e económico-financeiro da alienação deste ativo”, e explica: “O Estado vai pôr no total 3,2 mil milhões de euros. Não é um empréstimo a alguém que pediu uma ajuda, o Estado capitalizou um ativo seu que tem uma importância capital na economia”, explica o dirigente sindical.

Paulo Duarte enumera as razões que tornam a TAP uma companhia apetecível: “tem muito bons ativos em termos de slots, tem posições em geografias muito importantes como é o caso da América do Sul, voando para 12 cidades do Brasil, com mais de 80 voos por semana. Nos Estados Unidos tem também uma muito boa posição, com slots nos principais aeroportos e uma posição invejável em relação a toda a África”.

A este peso estratégico por parte da TAP no mercado, soma-se ainda a exportação da companhia aérea portuguesa de “mais de 2 mil milhões de euros; a compra no mercado nacional a mais de mil empresas portuguesas; transporta para Portugal cerca de 19 milhões de passageiros”, refere Paulo Duarte que conclui: “Se tivermos em conta que o Aeroporto da Portela, em 2019, teve 31 milhões de passageiros, e que a TAP era um bocadinho mais de 50% do movimento da Portela, ficamos com a dimensão do turismo e da importância que a TAP tem neste Aeroporto”.

Há, de resto, um estudo da Confederação de Turismo que, garante Paulo Duarte, “dá a ideia da importância que a TAP tem, e sem falar na capacidade que a companhia aérea portuguesa tem de transportar clientes para Portugal. Mais de 80% da receita da TAP é do estrangeiro, portanto são exportações”. Logo, conclui Paulo Duarte, com a privatização da companhia “tudo o que era exportação passaria a ser importação e a empresa não comprava a empresas portuguesas, comprava a empresas do seu país. A mão de obra altamente especializada de 8 a 9 mil postos de trabalho diretos, tem a montante mais de 100 mil postos de trabalho”, remata o dirigente sindical: “A TAP é um mundo à volta de si própria”, conclui o dirigente sindical.

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