Opinião

A Voz dos Livros

Pequeno Livro das Coisas

Pequeno Livro das Coisas, de João Pedro Mésseder e Rachel Caiano

João Pedro Mésseder, poeta de grande fôlego, de verbo inquieto e profundamente ligado ao pulsar do nosso tempo, com vasta obra publicada neste domínio e vários prémios atribuídos a esse singular percurso é, simultaneamente, autor de livros infantojuvenis de referência, nos quais têm participado ilustradoras de grande qualidade gráfica e interpretativa dos textos propostos pelo autor.

No caso particular deste Pequeno Livro das Coisas, a ilustradora foi Rachel Caiano, com a qual João Pedro Mésseder já havia trabalhado em textos anteriores, como Tudo é Sempre Outra Coisa, De Umas Coisas Nascem Outras (Prémio SPA/2016), Olhos Tropeçando em Nuvens e Outras Coisas, Canções do Ar e Das Coisas Altas Coisas que Gostam de Coisas. De modo que este mundo “das coisas”, as coisas que habitam o nosso espaço, as coisas úteis para a vida e os seus amplos significados, provando que “as coisas são as coisas e são o seu contrário”, dependendo do modo como as olhamos e/ou utilizamos, é um território fabular já muito presente na obra de ambos os autores.

Este Pequeno Livro das Coisas, de que acaba de sair a 3ª. edição, cumprindo 10 anos da sua publicação inicial, venceu em 2014 o Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância e faz parte dos livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura.

Estamos perante um livro escrito com rigor em que o prodígio da imaginação do autor se expande pelo universo das pequenas coisas que fazem parte dos nossos quotidianos, dando-lhes, através de pequenos textos/poemas, uma outra e, por vezes, inesperada dimensão e significado: as coisas que usamos (pijamas, laços, pente, borracha, óculos, borracha, lápis, pisa-papéis), objectos aos quais o autor empresta, com a clareza do seu verbo, outra grandeza imagética. Vejamos, como exemplo, a vulgar Goteira que transporta dos telhados das casas a água da chuva: Em dias de muita chuva/a goteira canta./Tem feia voz de lata/a goteira,/mas à noite,/no meu quarto,/não quero outro canto/de embalo. Ou ainda este sobre a Pérola que vive no corpo das ostras, e em que o sentido de usura está explicito: Como pode uma só concha,/pousada no fundo do mar,/tanta vaidade e cobiça/em terra segregar?

O didatismo, o rigor das palavras e das ilustrações, conjugados com a alegria de dizer das coisas a sua transcendência, fazem deste livro de João Pedro Mésseder e Rachel Caiano, um livro indispensável para os leitores mais jovens. Um livro que me atrevo a recomendar aos professores e alunos dos grupos escolares da nossa Voz do Operário.

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