Área ardida em 2022 já ultrapassa os piores registos

Até agora, ainda o verão está no seu início, a área ardida em Portugal já se aproxima do dobro da área ardida em 2020, o ano em que mais hectares foram percorridos pelas chamas, e este ano, lamentavelmente, já com perdas humanas.

Presidente da Assoc. Humanitária de Bombeiros da Marinha Grande refere “falta de recursos humanos” e “necessidade de renovação” da frota.

Se face aos incêndios de outubro de 2017 na região Centro, que provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos e a destruição de cerca de 1 500 casas e mais de 500 empresas, as expectativas apontavam para que se transformassem num ponto de viragem no que respeita à prevenção e ao combate aos incêndios, a realidade veio desmenti-lo.

Os números traduzem desde logo duas outras realidades: os incêndios ocorrem em zonas mais despovoadas e as áreas entre povoamentos e a floresta são as mais afetadas. São estes os factos que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) revela no seu relatório provisório que faz o balanço dos incêndios em Portugal entre 1 de janeiro e 15 de julho de 2022.

Segundo o ICNF “a base de dados nacional de incêndios rurais regista, no período compreendido entre 1 de janeiro e 15 de julho de 2022, um total de 6 164 incêndios rurais que resultaram em 40 102 hectares de área ardida, entre povoamentos (21 288 ha), matos (14 328 ha) e agricultura (4 486 ha)”.

Se compararmos os valores de 2022 com o histórico dos 10 anos anteriores, verificamos que “se registaram menos 5% de incêndios rurais e mais 89% de área ardida relativamente à média anual” do período em questão. Verifica-se ainda que “o ano de 2022 apresenta, até ao dia 15 de julho, o 5º valor mais elevado em número de incêndios e o 2º valor mais elevado de área ardida, desde 2012”.

A culpa é da “mãozinha”?

António Costa, perante as previsões de um período de maior calor e potencialmente mais sujeito à ocorrência de incêndios, disse que “só não há incêndios se a mãozinha humana não os provocar”.

A referência à mão criminosa como responsável pela maioria dos incêndios é também desmentido pelos números, já que 80% dos casos de incêndios provocados por mão humana são atos negligentes e não dolosos.

Ainda que os factos o desmintam, o uso da expressão pode mesmo “alimentar pulsões populistas”, alertava na altura o PCP pela voz de João Frazão que lamentava ainda a responsabilização das populações individualmente, em particular dos pequenos e médios proprietários. Pelo contrário, sustenta o dirigente político, “é na defesa da pequena e média agricultura, da pastorícia e da pecuária e na sua dinamização que se pode garantir a fixação de pessoas no mundo rural e a criação de zonas tampão, particularmente em torno dos aglomerados populacionais”. Defende ainda como crucial a “Intervenção do governo na regulação do preço da madeira”, e como indispensável “que o mercado seja transparente e se garantam preços justos à produção”.

Já no que respeita ao combate aos meios humanos de combate aos incêndios, também a tragédia de 2017, ocorrida em Pedrógão e Figueiró dos Vinhos, parece ter tido pouco peso nas decisões, entretanto adotadas pelo Executivo, designadamente no que respeita ao reforço de meios, quer humanos quer materiais, para uma das regiões mais afetadas pelos incêndios.

Recorde-se que “mais de 80% da Mata Nacional de Leiria, que tem 11 062 hectares e ocupa dois terços do concelho da Marinha Grande, ardeu nestes incêndios” de 2017, referia-se na carta aberta enviada pelo presidente da Associação Humanitária de Bombeiros da Marinha Grande, Pedro Franco ao ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro e ao presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, António Nunes.

Nessa mesma carta, Pedro Franco queixa-se de “falta de recursos humanos” e “necessidade de renovação” da frota e garante que se ocorrer outro incêndio semelhante aos de outubro de 2017 “resta ter fé”.

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