No próximo dia 13 de fevereiro assinala-se o Dia Mundial da Rádio – uma celebração promovida pela UNESCO desde 2011, com o objetivo de estimular a utilização deste meio de comunicação para um acesso mais amplo das populações à informação. É este, de facto, o papel histórico da rádio. Foi, muitas vezes, e em cooperação internacional, o meio de combate à desinformação e o som de uma esperança de futuro que as barreiras da opressão teimavam em esconder. Foi a resistência das populações que furou sempre o controlo dos meios de comunicação por essa opressão e que deu voz à possibilidade da liberdade e do poder popular.

Na história da Rádio há momentos tão relevantes que permanecem na nossa memória coletiva mais do que mil imagens, porque o poder da voz que transporta as emoções do momento tem um efeito em nós que vai muito para além da aparência. Da Grândola que abriu as portas de Abril ao relato de A Invenção do Amor, passando pela defesa sem luvas de Ricardo nas meias-finais do Euro 2004, a Rádio concentra num único sentido toda a nossa atenção e desperta em nós uma reação tão espontânea, tão imediata, que se torna inesquecível e insubstituível.

Ao longo dos últimos anos, temos assistido a uma tentativa de museologização da Rádio. As notícias sobre a sua substituição por novos meios de comunicação e novas tecnologias parecem querer determinar a morte de um meio que muitos dizem anacrónico. E esta tentativa não é inocente. A Rádio tem um alcance coletivo e massificador; na Rádio há mediação entre os conteúdos e os ouvintes; a Rádio transporta a informação em tempo real em toda a parte; e apesar das dificuldades e limites que impuseram à sua democratização, este é um dos meios que ainda pode resistir ao centralismo e à globalização, através de órgãos locais e de movimentos populares.

A homogeneização cultural é, nesse sentido, uma das consequências que já vemos refletidas no nosso quotidiano. Apesar da aparente diversidade, os produtos de entretenimento que as rádios servem são uma determinação de um mercado de consumo, muitas vezes alienador daquilo que é a realidade política e da cultura popular – aquela que é criada e produzida pelas populações e não em estúdio por homens de negócios. Enfraquecida por esta tendência, evidenciando ainda mais as limitações e criando a sensação de que já não dá resposta às necessidades das populações, a Rádio atravessa, há alguns anos, um dilema de sobrevivência. O problema não é da Rádio, mas sim do monopólio de todos os meios pelos mesmos grupos económicos, que definem o que sobrevive e o que desaparece, o que está ou não está na moda, o que é e o que não é memória.

Uma das causas mais evidentes dessa homogeneização é a dependência financeira das rádios. Para além da sobrecarga publicitária que interrompe emissões e consome uma parte significativa do tempo de antena, criando nas redações dilemas sobre a transparência da informação, há uma dependência política que se manifesta, sobretudo, nas rádios locais, onde o poder local surge como tábua de salvação e condiciona um direito tão fundamental como a liberdade de expressão. Não falamos apenas da informação, mas também da criação e produção cultural que ficam reféns das prioridades de figuras externas ao interesse público. 

Torna-se cada vez mais urgente um serviço público de rádio que reflita, também, um serviço público de cultura. Precisamos de uma Rádio que represente as aspirações das populações, que reproduza a sua cultura e que seja vanguardista na divulgação e na informação. Precisamos de uma Rádio que seja mais popular do que elitista e mais sofisticada do que popularucha; uma Rádio que nos devolva a comunidade e que seja uma construção coletiva. 

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