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O Tempo de Estudo Autónomo também confinou

Quando em março de 2020 a pandemia levou milhares de alunos para casa, numa altura de medos e incertezas, a Voz do Operário tentou garantir que, aquilo que mais nos distingue, não ficasse esquecido para trás, como o eco dos nossos alunos a correr pelos corredores.

Já nessa altura, com a participação de todos, como é nosso hábito, estabelecemos diferentes estratégias para garantir, dentro dos possíveis, que todas as nossas rotinas se mantinham, mesmo que à distância.

Em janeiro de 2021, depois de um regresso feliz e que ainda sabia a pouco, fomos novamente forçados a recolher à segurança das nossas casas, como quem foge de um inimigo desconhecido, deixando novamente para trás aquele que é, para todos nós, o lugar mais seguro da nossa aprendizagem.

No regresso tão esperado ao ensino presencial, foi hora de fazermos o balanço de mais um momento de ensino à distância e de revermos com todos, de que forma é que, alunos e professores dos diferentes anos, viveram e organizaram os seus momentos de estudo autónomo.

De um modo geral, os alunos dos diferentes anos, consideram os momentos de Tempo de Estudo Autónomo (TEA) muito importantes para a sua aprendizagem: “Gosto de trabalhar em TEA, porque gosto de organizar o meu Plano Individual de Trabalho (PIT) de acordo com as áreas em que sinto maior dificuldade” (7 anos). Ainda assim, é transversal aos diferentes anos, que a organização deste momento em casa, longe de todo o suporte às aprendizagens presente em cada uma das salas, torna o TEA num processo mais solitário, demonstrando sentirem falta do suporte quer do professor quer dos colegas “Gosto mais de trabalhar TEA na escola porque tenho os meus colegas para pedir ajuda logo”(6 anos),”… no Zoom não é tão fácil como na escola, estamos longe uns dos outros” (9 anos). O TEA é mais significativo na escola porque “é mais fácil para ir buscar os ficheiros. Em casa teria de ter os ficheiros já impressos, ou pedir ajuda à mãe” (9 anos).

Durante este período de ensino à distância o TEA foi privilegiado, mais ainda do que na habitual rotina da escola, as crianças passaram a ter dias preenchidos com estes momentos. Tal como na sala, as crianças puderam planear e avaliar o seu trabalho durante as semanas de confinamento que se seguiram. No entanto, nada substitui o lugar seguro que é a escola e, por isso, as diferenças fizeram-se sentir.

“Para mim os apoios e parcerias em zoom, no TEA, são mais difíceis porque não nos vemos mesmo” (10 anos). A ausência da proximidade professor-aluno e aluno-aluno em muito dificultaram este momento, pela sua natureza, que contempla interação, ajuda, cooperação, partilha e discussão entre todos os intervenientes “…estar em casa é diferente de estar na escola. Acho que me senti menos apoiado” (8 anos).

O TEA contempla momentos de apoios e parcerias que, durante o ensino à distância, foram agendados semanalmente em conselho de cooperação e tornaram-se momentos de esclarecimento de dúvidas, reflexão em torno de conteúdos, discussões em pequenos grupos, permitindo o debate entre pares e a sistematização de temas o que, para os alunos do primeiro ciclo, foi muito significativo “…porque discutíamos mais, fazíamos questões, perguntávamos, havia discussão” (10 anos) e também, “uns podem saber e outros não e vemos as coisas de todos” (6 anos).

No entanto, no ensino presencial, temos a possibilidade de marcar mais parcerias. No ensino à distância, a maior dificuldade foi organizar momentos destes respeitando as rotinas familiares e não excedendo o tempo de exposição diário síncrono. Para colmatar esta dificuldade, os alunos envolveram-se bastante nos diferentes suportes de comunicação disponíveis, de forma a comunicar as suas dificuldades uns com os outros e a partilhar informações, recados, mensagens. Nas “parcerias, fazia com os amigos as propostas e havia amigos que sabiam e eu não e coisas que eu sabia e os amigos não” (10 anos).

Ainda assim, principalmente para os alunos dos primeiro e segundo anos de escolaridade, os momentos individuais de tutoria são os mais significativos porque “…são mais separados, com mais sossego, sem barulho e tenho mais apoio do que quando estou com mais pessoas” (7 anos).

Diariamente, as crianças responsabilizaram-se por colaborar no planeamento, regulação e avaliação de atividades, notando-se um grande interesse em participar, evoluindo a nível pessoal e social, no entanto, todos sentiram diferença entre o TEA em contexto presencial e à distância “apesar de em casa ter sempre a ajuda dos meus pais, na escola estou com a Andreia e ela consegue ajudar-me melhor quando tenho dúvidas” (9 anos).

O Tempo de Estudo Autónomo também confinou. Este, foi um trabalho diferente daquele a que nos propusemos quando abraçamos a missão de sermos professores. Foram dias cansativos, mas inspiradores! Por vezes, aborrecidos, mas cativantes! Onde todos, professores, alunos, famílias deram o seu melhor para continuar presentes numa comunidade e a desenvolver um trabalho cooperativo.

Só assim, foi possível porque estivemos juntos e nunca deixámos de acreditar no nosso projeto educativo.

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