Todos nós temos direito à habitação. Não devia ser um sonho, devia ser um facto. A Constituição da República Portuguesa consagra o dever do Estado de garantir esse direito. E esse direito é tão direito como todos os outros. “A paz, o pão, habitação, saúde, educação, só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir, quando pertencer ao povo o que o povo produzir”, cantou Sérgio Godinho para nos lembrar as razões que levou um povo a arregaçar as mangas durante o processo revolucionário.
Nas cidades e nos campos, a democracia é condição essencial para uma vida digna para quem neles vive. Também os trabalhadores agrícolas conquistaram direitos e o acesso à terra durante a revolução. Só que a reforma agrária não é uma mera recordação daquilo que podia ter sido o interior. É um instrumento essencial que mantém toda a atualidade.
A democracia não é só votar de quatro em quatro anos. É participar de forma ativa na comissão de moradores, na associação recreativa do bairro, no movimento de utentes por melhores transportes públicos e no sindicato por melhores salários. Porque a democracia tem de ser política mas também económica, social e cultural.
Estas quatro vertentes guiaram aqueles que construíram Abril e que deixaram, apesar da contra-revolução, um património para as gerações de hoje e de amanhã. A enfrentar crises sucessivas, políticas de direita independentemente do protagonista no governo, a atual pandemia expôs a nu a natureza desigual do sistema em que vivemos. Se houve quem ousasse falar em capitalismo de rosto humano, o momento que vivemos prova que os trabalhadores e o povo só podem confiar na sua capacidade de organização e resistência.
Que Abril seja um farol para o futuro que precisamos de construir.