Opinião

O 25 de Novembro a Norte, de Jorge Sarabando

O 25 de Novembro, que a direita, serôdia e revanchista, essa minoria dos privilégios e da usura, tenta tornar marco das suas lutas anti-revolucionárias, de regressão cultural e civilizacional, não é data que conste do nosso calendário de afectos: a anti-história não é relevante nem gloriosa, alimenta-se do ódio, do rancor, da mesquinhez; vive da vergonha da sua própria origem, dos seus preclaros desígnios. É uma irrelevância que se exibe coxa e a cheirar a naftalina, com as mãos sujas de sangue, atrelada à ignomínia dos dias do terror; vive de mentiras urdidas sem honra nem pudor.

É desse substracto larvar, desse chão de lacraus, do medo erguido como bandeira de perpetuação de ancestrais domínios, que o livro O 25 de Novembro a Norte – o processo revolucionário no ano de 1975, de Jorge Sarabando, nos fala de modo informado e minucioso.

Jorge Sarabando traça, desse longo período da contra-revolução, o retrato rigoroso sobre dos meses mais quentes, quiçá os mais intensos das conquistas sociais, políticas e económicas que transformariam a face de um país parado no tempo, vergado ao medo e sem projecto colectivo; país ao qual o fascismo havia sonegado a esperança e a capacidade de se reinventar e de ser justo. Este livro faz ainda sentido nestes dias inquietantes que vivemos, e de que a recente campanha eleitoral foi perturbador exemplo. 

Trata-se de um livro original nos seus propósitos, dado a sua análise se debruçar sobre factos vividos, e sofridos, a norte de uma linha definida pelas forças regressivas, que teria a sua fronteira em Rio Maior (à época eixo estruturante das comunicações terrestres), dessa forma dividindo, numa espécie de esquizofrenia delirante e suicida, o país em dois blocos antagónicos: o Norte conservador e contra-revolucionário, e o Sul progressista e revolucionário. Táctica básica, dividir para reinar, que Nicolau Maquiavel teorizou e que até o mais empedernido cabo militar terá intuído nas suas linhas gerais.

Não por acaso – o acaso é, na luta de classes, a realidade em movimento -, o ELP e o MDLP, cujas reminiscências andam por aí travestidas com novos slogans, situaram, a partir dessa linha divisória, o grosso das suas acções contra-revolucionárias: perseguindo militantes comunistas e de outras forças de esquerda, activistas sindicais e, em alguns casos, chegando a assassinar muitos deles, destruindo e incendiando sedes de partidos (e o PCP, erigido inimigo principal, foi a grande vítima deste processo) numa estratégia que vinha nos compêndios da guerrilha urbana, e que Carl Von Clausewitz definira: instalar no país o desgaste e o atrito constantes, até atingir o clímax, ou seja, criar um clima psicológico e emotivo que estabelecesse condições propícias ao contra-ataque das forças reaccionárias.

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