Cultura

Beethoven

Nasceu há 250 anos. Beethoven, compositor universal e dos povos

Em dezembro deste ano, assinala-se o nascimento do compositor Ludwig van Beethoven, há 250 anos em Bona. Entre outras associações, A Voz do Operário associou-se desde o primeiro momento às comemorações que até estiveram agendadas para o espaço desta instituição mas que devido à pandemia foram, entretanto, celebradas na Casa do Alentejo, a 7 de outubro.

Na sessão de homenagem, estiveram presentes, para além de Rosa Honrado Calado, dirigente daquela associação, o compositor, maestro e violinista Alexandre Delgado e António Cartaxo, antigo radialista da BBC e da Antena 2, vencedor, como realizador de rádio, em 1977, do melhor programa europeu sobre Beethoven. Também esteve José Carlos Alvarez, diretor do Museu do Teatro, que disponibilizou alguns objetos beethovenianos ali em exposição, e a professora Anna Picco, especialista em História de Ópera.

Entre os organizadores estava Maximiano Gonçalves, também ex-radialista da Antena 2, que fez questão de recordar que a arte “liberta e une os homens em irmandade” expressando gratidão à Mútua dos Pescadores, através de Marta Pita, que viabilizou o concerto do Trio de Cordas do Quarteto Moscovo. Num emotivo discurso, Maximiano Gonçalves recordou que na “modesta condição de comum cidadão e melómano, de alguém que teve a inavaliável sorte de ter sido educado a escutar música, sem a ter aprendido como queria” olha para Beethoven como alguém que escreveu música para ser “escutada pelos povos e todos os que constroem comunidades fraternas”.

O ex-radialista lembrou Hans Keller, célebre austríaco, forçado a fugir do nazismo e que se radicou em Inglaterra, onde trabalhou na BBC, e que apontou Beethoven como “talvez a mente maior de toda a humanidade”, opinião corroborada pelo crítico literário franco-alemão George Steiner, falecido no princípio deste ano. Para Hans Keller, de todos os homens de exceção que a história assinala na ciência e na arte, nenhum foi mais longe do que o compositor na observação da sociedade que o rodeia.

No funeral de Beethoven, o poeta e escritor austríaco Franz Grillparzer transmitiu precisamente este reconhecimento ao génio da música, salientando que ele se batera pelo próprio povo e pela humanidade como um todo. “Todos os que se reconhecem do povo têm o direito e o dever de festejar Beethoven como um superior artista do progresso”, sublinhou Maximiano Gonçalves que também recordou palavras de Schubert e Wagner sobre o compositor e não esqueceu a afirmação do pianista Artur Schnabel sobre um homem que quis a música como pensamento: “Passar, simplesmente, de uma nota para outra, em Beethoven, exige pensar, exige interpretar.
Beethoven procurou, toda a vida, não só ver mas manifestar um olhar atento ao que acontece pelo mundo. 

A sua música, deliberadamente, reflete e pensa. Quando o compositor escolhe algumas estâncias da “Ode à Alegria”, que era, aliás, originalmente, “Ode à Liberdade”, alterada por coação política, Maximiano Gonçalves destaca que é a evidência de que está atento ao significado da 9ª Sinfonia. E é ele mesmo que escreve algumas das palavras ouvidas no andamento final.
Beethoven é o primeiro dos grandes músicos a recusar ser funcionário ao dispor de nobres, príncipes e majestades, a ser servo, mesmo que acarinhado, honrado e bem pago. O que pediu, e nem sempre com êxito, foi pagamento, contratos de trabalho, garantias de poder exercer a sua profissão.

O artista afirmou que devia poder “abastecer-se em um armazém do que necessitasse”, que era, de acordo com o ex-radialista, a formulação marxista expressa na Crítica ao Programa de Gotha: “De cada qual segundo as suas capacidades, a cada qual segundo as suas necessidades”. Eis como Beethoven enuncia, de modo lapidar, o que entendia ser o compromisso entre a sociedade e o trabalhador da arte, refere Maximiano Gonçalves.

Hoje, a obra de Beethoven continua, indelevelmente viva e a sua personalidade reconhecida universalmente como legado de todos os povos tão bem expressa nas suas palavras: “Quem chegar a compreender a minha música tem de libertar-se de todas as misérias”.

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