Política

25 de Abril

Um canto pela liberdade e justiça social

As celebrações do 46.o aniversário da revolução de Abril vão ficar certamente na memória de muitos como o dia em que os portugueses fizeram de janelas e varandas as suas ruas e avenidas. Logo que se soube que não se podia sair à rua devido às restrições, várias organizações, partidos e movimentos apelaram aos trabalhadores e à população para cantarem, à janela, Grândola, Vila Morena, uma das senhas da revolução, da autoria de José Afonso.

Entre os dias 24 e 25, foram muitas as iniciativas através da internet que celebraram em direto a jornada histórica que marcou o fim de 48 anos de fascismo em Portugal. Várias autarquias transmitiram concertos de artistas da chamada música de intervenção como a da Amadora com Paulo de Carvalho, a de Loures com Sérgio Godinho ou da Moita com a poesia de Ary dos Santos. A RTP passou o documentário As Armas e o Povo depois de passar por um processo de digitalização e de correção de cor. O grupo de teatro Artelier encenou a operação militar nas ruas de Lisboa com imagens projetadas nas paredes dos prédios.

Mas foi a evocação da revolução pela população, em todo o país, através de cartazes, faixas e cravos vermelhos que marcou a data. Em Lisboa, no bairro de Santos, Pedro Vaz juntou-se aos vizinhos para decidirem o que fazer. “Chegámos à ideia comum de atravessarmos uma faixa de um lado ao outro da rua. Cada um dos meus vizinhos deu o seu contributo. Uns compraram as tintas, outros deram o lençol, outros coseram-no e depois subiram-na”, explicou à Voz do Operário.

Às 15 horas em ponto, o país, entre afinados e desafinados, juntou-se num coro coletivo para cantar a liberdade e a justiça social que evocam as letras de José Afonso e a revolução de Abril. Famílias inteiras nas varandas e janelas e trabalhadores em frente às sedes dos sindicatos gritaram bem alto que “o povo é quem mais ordena”. Também na varanda d’A Voz do Operário, que fez parte da zona promotora da zona oriental, se cantou Grândola Vila Morena.

Mas esta celebração conjunta, mesmo com a distância imposta pelos tempos que correm, também esteve nos locais de trabalho onde os profissionais de saúde combatem a pandemia. Vários médicos, enfermeiros e auxiliares do serviço de urgência do Hospital de São José juntaram-se para cantarem abraçados a senha da revolução ao qual somaram as palavras de ordem “Viva o 25 de Abril” e “Viva o SNS”. À Voz do Operário, o enfermeiro Nuno Delicado explicou que pelo menos três dos trabalhadores desta unidade “não falham um único 25 de Abril na Avenida da Liberdade” e que logo se juntaram outros colegas ao coro. “Fazia todo o sentido, mesmo com as limitações por estarmos a trabalhar em prol de todos nós”.

Também noutros países, como a Galiza, foram muitos os que se assomaram à janela para cantar com os portugueses. Foi o caso de Bruno Teixeiro que se juntou mais a filha à janela em Ferrol. De Itália, dia em que se celebrava também à janela o dia da libertação do país das forças nazi-fascistas, chegaram mensagens de apoio a Portugal. Mas também da parte da comunidade emigrante. No Luxemburgo, no bairro de Clausen, o jornalista português Ricardo J. Rodrigues fez soar a Grândola a partir da janela.

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