Se o conjunto das estrelas do espetáculo se diz o estrelato, se um conjunto de generais se designa por generalato, seja-nos permitido criar um neologismo e dizer que o conjunto dos senhorios é o senhoriato, assim como o conjunto dos inquilinos se chama inquilinato.

O senhoriato possui terras e prédios, aluga-os e recebe rendas, o inquilinato não tem terras nem prédios, aluga-os e paga rendas.

Dificuldades da língua portuguesa.

De algum tempo a esta parte a imagem do senhorio e o papel do senhoriato tem-se alterado significativamente: na iconografia do século XIX o senhorio urbano era representado através de uma figura rotunda, arrogante, charuto na boca e anéis nos dedos ou através da figura seca e angulosa do agiota, de papel na mão a ameaçar despejos.

Compreende-se historicamente que, na ausência de instrumentos de previdência social, uns quantos garantissem a velhice acumulando terras e prédios.

Em Lisboa e nos arredores o fenómeno teve caraterísticas especiais quando modestos construtores que haviam sido pedreiros, pintores ou estucadores contraiam um empréstimo e construíam prédios que vendiam ou alugavam, e a relação dono-arrendatário era pessoal e muitas vezes cordial.

Os “patos bravos”, ridicularizados na época, são hoje recordados com carinho pelos mais velhos.

Atualmente o senhoriato refugia-se em Fundos que tanto podem estar aqui como nas Ilhas Caimão, ou manda um seu agente (imobiliário) receber os candidatos a inquilinos, investigá-los e elaborar um relatório que servirá de base à decisão de alugar ou não alugar a este ou aquele e essa decisão pode basear-se em: não querer famílias com crianças pequenas ou animais domésticos, não querer famílias monoparentais e muito menos do mesmo sexo, querer saber a constituição da família, a idade de cada um e o que faz, só querer gente com rendimentos certos e assegurados por declaração do IRS e recibos de vencimento dos últimos três meses, caução, pagamento adiantado de duas ou três rendas e fiador com fortuna ou idade previsível para garantir cinco anos de contrato. Não raras vezes é exigida a apreciação direta dos candidatos não vá aparecer alguém mais ardiloso que depois se venha a revelar “esquisito” no comportamento, no penteado ou no tom da pele, nos trajes ou nas maneiras e há senhorios que só fazem contratos por um ano e “à experiência”.

Face ao que aqui se descreveu ocorre perguntar que futuro nos espera: consultem-se os programas eleitorais dos partidos concorrentes ao próximo ato eleitoral e é fácil verificar que são poucos os que se comprometem a fazer figurar nos seus orçamentos governamentais as verbas necessárias para aumentar o parque habitacional público destinado ao maior número e quebrar a malfadada situação atual – seletiva e discriminatória.

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