Opinião

Transportes Públicos

Culpas e Desculpas

©Marta Cravo

Segundo notícias vindas a público, há duas declarações de responsáveis no governo relativas aos problemas com que se debatem os utentes dos transportes públicos que importa registar. Um pedido de desculpas pelos incómodos diários sofridos e o reconhecimento de que o planeamento ferroviário de 2016 foi ambicioso e irrealista, sofrendo o país de uma deficiência grave em termos de engenharia e projeto. Pedir desculpa, sendo positivo, pois é o reconhecimento da culpa, não basta. É necessário demonstrar que se pretende inverter o procedimento que originou a culpa. Infelizmente, a realidade, até agora, mostra que se trata de uma tentativa de apaziguar os protestos e não de sincero arrependimento dos males causados a quem tem de usar os transportes públicos no seu dia-a-dia. Já estão a ser preparados, nas empresas, os concursos para aquisição do material circulante em falta e do que ficará obsoleto a curto prazo? Só se envolvidos em segredo. A admissão de trabalhadores em falta, para dar resposta ao serviço de exploração e para manutenção, reparação e reabilitação de material circulante, há muito reclamada por utentes e estruturas dos trabalhadores continuam por fazer, apesar das constantes promessas. Portanto não há desculpa. Quanto à ambição no planeamento, o verdadeiro nome é propaganda na comunicação social, para dar a ideia de que os problemas estão a ser resolvidos, o que não acontecendo tem o seu reverso. O défice na engenharia ferroviária é real, mas também tem responsáveis. Durante cinco anos, não houve projeto, além de pequenos empreendimentos, qualquer investimento digno desse nome, o que levou a um vazio. No entanto, aquele facto não foi só por si a razão desse défice. Neste século, por reformas normais e antecipadas por iniciativa e aliciamento das empresas do setor ferroviário, foram muitas dezenas (talvez centenas) de técnicos que deixaram as empresas, sem que uma nova geração tivesse tido oportunidade de pegar no testemunho do saber fazer para dar continuidade e também novos passos no desenvolvimento das diversas especialidades. Tudo isto tem culpados que são os que estiveram à frente da ação governativa no período da degradação, que já vai longo. Não venham pedir desculpa

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