Comemoramos em outubro de 2019, o 140.º aniversário do jornal A Voz do Operário, recordando que foi em 1879, numa reunião de operários tabaqueiros, em que se debatiam os muitos problemas da classe e se repudiava o fato de os jornais de então terem recusado a publicação de uma artigo sobre os seus problemas e reivindicações, que Custódio Gomes proferiu a célebre frase: “Soubesse eu escrever, que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos jornal; bem ou mal, o que lá se disser é o que é a verdade. Amanhã reúne a nossa Associação e hei-de propor que se publique um periódico que nos defenda a todos e mesmo aos nossos companheiros de outras classes.”
E nessa reunião, Custódio Gomes deu a conhecer o seu projeto e foi Custódio Braz Pacheco, que desenvolveu a proposta relembrando os problemas da classe e a ausência de um jornal dedicado às batalhas laborais e à emancipação dos trabalhadores. Um jornal onde não fosse preciso mendigar um espaço para a publicação de notícias, porque ele próprio estava ao serviço da causa operária.
E assim, em 11 de outubro de 1879 foi publicado o número inaugural do jornal A Voz do Operário, tendo Custódio Braz Pacheco assinado o editorial, no qual se delinearam as diretrizes do jornal, designadamente: “pugnar denodadamente pelos interesses materiais e morais da classe que representa; concorrer quanto possível para a educação e moral da classe operária e instrução do povo, defender os que sofrerem injustiças; vexames e violências; promover o desenvolvimento da agricultura, da indústria e do comércio, e trabalhar incessantemente para o bem-estar social” prosseguindo noutro texto: “pugnar pelos nossos interesses materiais e morais, fazermos sentir aos nossos opressores que, pelo trabalho e pela palavra, temos a força precisa para sacudirmos o jugo de ferro que nos quiseram impor, e bem assim demonstrarmos, com argumentos indestrutíveis, que a classe operária desempenha um importante papel no teatro do mundo”.
O nosso jornal faz parte do restrito grupo da imprensa centenária, sendo o mais antigo jornal operário em publicação. A comemoração do seu 140.º aniversário terá como objetivo potenciar e incrementar a divulgação deste tão relevante projeto editorial.
São muitas as iniciativas que estão a ser programadas para decorrer ao longo do ano, com destaque para as próprias edições do jornal, a começar pela presente, como podem constatar.
A iniciativa de comemoração do 136.º aniversário da instituição, que decorrerá no próximo dia 23 e para a qual convidamos à participação dos sócios, que consistirá num jantar e sessão solene onde homenagearemos o grande amigo d’A Voz do Operário, Carlos Alberto Vidal, constituirá igualmente um ponto importante no arranque da comemoração dos 140 anos do nosso jornal.
De entre as múltiplas ações, podemos desde já destacar a realização de vídeos promocionais e de narrativa da história do jornal A Voz do Operário, bem como a criação de um site próprio, que constituirá mais um importante meio de divulgação do jornal. Como sabem, já hoje é possível a sua leitura em modo digital na página d’A Voz do Operário. Com o site do jornal pretendemos ir mais além, designadamente por permitir incluir notícias com maior periodicidade e consequentemente com melhor acuidade.
Está prevista a realização em abril de um debate sob o tema “independência ao serviço de quem?” e em outubro uma conferência abarcando as questões: imprensa sindical; controlo mediático dos grandes grupos económicos; meios alternativos; ética e deontologia.
Vai ser realizada uma exposição itinerante com painéis móveis contendo o percurso histórico do jornal A Voz do Operário ao longo dos 140 anos da sua existência, a qual deverá percorrer escolas e locais de maior passagem pública da cidade de Lisboa, bem como outros espaços a elencar.
Está igualmente prevista a feitura de dois murais relativos ao jornal, um pintado no Largo da Graça e outro em azulejo na Travessa de São Vicente.
Nascido da luta dos operários, para dar voz aos que a não tinham, o jornal cumpriu e cumpre os desígnios dos seus fundadores, mantendo-se irredutível na defesa dos justos interesses dos trabalhadores, constituindo um espaço onde as suas aspirações, reivindicações e lutas continuam a ter um profundo eco.
