Depois do êxito do concurso televisivo Arca de Noé, com cinco temporadas no princípio dos anos 90, as canções de Carlos Alberto Moniz e José Jorge Letria ficaram na memória de pequenos e graúdos. Três décadas depois, o salão d’A Voz do Operário encheu-se com muitas daquelas crianças que hoje são adultas e que trouxeram também consigo os seus filhos. Em palco, para além de Carlos Alberto Moniz e Rui Filipe, responsável pela orquestração, o Coro Infantil d’A Voz do Operário, sob a orientação da professora Inês Melo, trouxe as canções que todos conhecem de memória.
Para a instituição, a proposta de Carlos Alberto Moniz logo no princípio do ano letivo foi um chamariz para que mais crianças aderissem ao coro. De acordo com Inês Melo, alguns já conheciam as canções através dos pais e sentiu que foi muito gratificante ver o resultado de um trabalho que levou vários meses e em que as famílias tiveram um papel importante. Antes de subirem ao palco, mais do que nervosas, “as crianças estavam muito excitadas e entusiasmadas”, descreve a professora d’A Voz do Operário, que destacou ainda o ambiente harmonioso e divertido nos ensaios com Carlos Alberto Moniz.
A ligação do músico – que é sócio honorário da instituição – à Voz do Operário é de longa data e é da sua autoria, em conjunto também com José Jorge Letria, a canção “Queremos um dia que não vem no calendário”, autêntico hino das crianças da instituição. Praticamente todos os anos, o músico é, simultaneamente, autor de uma das marchas cantadas pela Marcha Infantil d’A Voz do Operário.
À conversa com o jornal A Voz do Operário, ainda antes do espetáculo, Carlos Alberto Moniz revelou que também um dos seus filhos ia estar na plateia a assistir. “É muito engraçado ver os miúdos [d’A Voz] que na altura ainda nem existiam a cantar canções que fiz para o programa Arca de Noé”, recordou. Sobre a preparação do concerto, considerou que os alunos da instituição estão “sempre afinadinhos” sob a direção da maestrina Inês Melo. “A verdade é que eles entram com facilidade nisto tudo”. Para Carlos Alberto Moniz, A Voz do Operário é uma casa a que pertence, marca as pessoas que por ali passam e cria, entre as crianças, “hábitos de leitura, de camaradagem e de convívio” numa instituição “de elevado prestígio”.
Influenciado por figuras como Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso e Carlos Paredes, diz que teve a sorte de esbarrar com essa geração de artistas quando chegou dos Açores. Do Azerbaijão à Festa do L’Humanitè, em Paris, passando pela Associação Democrática de Toronto, correu o mundo aprendendo os valores da solidariedade. “Com eles aprendi a não cantar nada que não estivessemos a praticar no dia a dia. Não serve de nada cantar a liberdade e ser um opressor ou cantar apologias ao trabalho e ser um explorador. E foi assim que aprendi a deitar-me todos os dias com a consciência tranquila e acordar de costas direitas”.