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“Neste momento, ninguém pode ficar em cima do muro”, afirma Paulo Raimundo

Mais de mil delegados estiveram reunidos em Almada para analisar a situação nacional e internacional, a organização partidária e aprovar um novo comité central que voltou a escolher Paulo Raimundo para secretário-geral do PCP.

Entre o primeiro congresso do Partido Comunista Português, em 1923, e o último congresso realizado em dezembro do ano que acaba de terminar, passaram 101 anos. Participaram, então, 90 delegados representando 27 organizações. Esse congresso discutiu e aprovou uma resolução sobre a estrutura do partido, os seus estatutos, o programa de ação e um documento sobre a questão agrária. Com a proliferação das ideias fascistas por toda a Europa, o tema foi amplamente debatido e houve uma conclusão que perdura até hoje: a unidade da classe operária como condição indispensável para que o fascismo seja derrotado.

Os congressos do PCP são, ainda hoje, um momento inédito na política nacional. Dezenas de milhares de militantes participam em milhares de reuniões para darem a sua opinião e ajudarem a construir da base para o topo uma orientação política que há de guiar o partido nos quatro anos seguintes. Simultaneamente, elegem um comité central que seja capaz de dirigir a organização no caminho decidido.

A surpresa, para além deste modelo amplo de debate interno anterior aos três dias de congresso, é a inexistência dos habituais circos mediáticos em torno de três ou quatro figuras que concentram em si toda a discussão sem que se aprofunde a análise sobre opções políticas. Para lá da feira de vaidades em que a maioria dos partidos prefere navegar, o congresso do PCP trouxe momentos altos. São disso exemplos os discursos da operária da indústria conserveira de Peniche e da trabalhadora das carnes Nobre em Rio Maior que, para além de relatarem as lutas por melhores condições de trabalho nos seus setores, participaram ativamente num congresso que tocou temas tão vastos como o acesso ao desporto, o combate ao racismo e xenofobia, as agressões de Israel no Médio Oriente, a emancipação da mulher, o investimento na ciência e o Serviço Nacional de Saúde.

Com a forte implantação social do PCP no mundo do trabalho, com reflexo no movimento sindical e no associativismo, cada congresso é uma boa janela para entender o que pensam os comunistas. Envolvidos nas lutas que se travam no país, é bem provável que para além dos militantes do PCP e da esquerda, também os seus adversários e inimigos tenham estado atentos ao que ali se decidiu.

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