Em 2014, António Costa foi obrigado a aceitar um entendimento à esquerda. Foi a força das circunstâncias. Era a única maneira de sobreviver politicamente. O PS tinha abdicado de combater o governo da troika, viabilizou orçamentos inacreditáveis e acabou por ficar atrás do PSD/CDS nas eleições legislativas. A geografia parlamentar e a imposição por parte do PCP, Verdes e BE de condições para a conformação de um governo PS permitiram um período em que os trabalhadores viram avanços e a recuperação de alguns direitos. Durante vários anos, enquanto piscava o olho à direita, o PS queixou-se das exigências dos partidos à sua esquerda e disse que eram um factor de instabilidade. Com a ajuda de Marcelo Rebelo de Sousa, à primeira oportunidade, o PS fez cair o executivo e pediu maioria absoluta como condição para uma governação estável. O resultado está à vista. As maiorias absolutas, em Portugal, têm sido, sobretudo, factor de instabilidade para a vida dos trabalhadores.
Quase dois meses depois, a agressão do Estado de Israel a Gaza e à Cisjordânia traduz-se numa das páginas mais vergonhosas da história contemporânea. A ocupação e o colonialismo têm raízes bem fundas no apoio que o Ocidente sempre deu às autoridades israelitas. Se os governos ocidentais, com ténues diferenças, estão do lado de Israel, as ruas estão do lado da Palestina. As manifestações massivas sucedem-se por todo o mundo e, apesar das tentativas de medidas repressivas em vários países, a solidariedade com a luta do povo palestiniano prevalece. Poderia dizer-se que a dignidade se veste de vermelho, verde, branco e negro.