A educação tem um papel preponderante na formação do ser humano, possibilitando-lhe conhecimento, cultura, valores, resiliência e adaptação ao meio. O modelo pedagógico que a Escola A Voz do Operário segue prende-se com o Movimento da Escola Moderna, uma prática baseada em princípios de equidade e democracia. Trata-se de uma pedagogia de cooperação educativa, em que crianças e adultos negoceiam atividades e projetos, tendo em conta os saberes, interesses e motivações das crianças, bem como o contexto sociocultural das comunidades. As atividades diárias são planificadas em conjunto e de forma individualizada e a gestão do currículo é feita por todos, nas reuniões em Conselho de Cooperação. Tal proporciona às crianças uma responsabilização para com elas próprias e para com os outros.
O nosso trabalho envolve: projetos em cooperação (projetos de estudo, técnicos e de intervenção social); trabalho curricular em interlocução coletiva (construção de saberes); organização e gestão cooperada em Conselho de Cooperação Educativa (planeamento, avaliação, análise de ocorrências significativas, reflexão ética e construção de regras de vida); circuitos de comunicação para difusão e partilha dos produtos culturais (projetos, produções, publicações, troca de correspondência e interação virtual); e ainda tempo de trabalho individual e acompanhamento individual interativo.
Pegando nas palavras de Sérgio Niza, trata-se de um “trabalho de conhecimento e de produção cultural onde, em cooperação, se constroem as aprendizagens curriculares e de cidadania, criando condutas de projeto que façam avançar novas obras”. Num processo de aprendizagem cooperada existem três condições fundamentais: grupos heterogéneos; expressão livre; e atividades como brincar, explorar e descobrir. O paradigma é transversal às várias etapas da educação abrangidos pela nossa instituição – creche, jardim-de-infância, 1.º e 2.º ciclos do ensino básico.
A educação é um continuum, percorrendo várias fases da vida. As transições constituem mudanças dos ambientes sociais imediatos de vida, que determinam ajustamentos no comportamento, uma vez que correspondem a papéis, interações, relações e atividades distintos. Não obstante se tratar de um processo contínuo, as transições escolares são momentos marcantes e por vezes desafiantes, gerando nas crianças um sentimento de “começar de novo”. A entrada no 1.º ciclo do ensino básico constitui um marco significativo, sendo um prosseguimento da vida na escola, onde se vai continuar a aprender. É importante que haja pontos de ancoragem (planificações, tarefas, hábitos e contextos semelhantes), bem como transmitir à criança uma visão positiva dessa passagem, enquanto oportunidade de crescer, de realizar novas aprendizagens, de conhecer outras pessoas e contextos, bem como de iniciar um novo ciclo, de forma a sentir confiança nas suas capacidades para dar resposta aos novos desafios.
A existência de um trabalho conjunto, articulado e contínuo entre as diferentes etapas tem um papel decisivo. N’A Voz do Operário, verifica-se uma cooperação entre educadores e professores, pensando em conjunto como organizar a continuidade, acordando procedimentos de transição e debatendo estratégias, aprendizagens e práticas. O envolvimento das crianças no processo de transição do jardim-de-infância para o 1.º ciclo do ensino básico é de suma importância, já que elas são as protagonistas. Elas já vêm com uma panóplia de aprendizagens e competências singulares, que são tidas em conta, e têm voz, havendo momentos para expressarem habilidades, motivações, opiniões e receios, bem como para fazerem perguntas. É também importante familiarizar as crianças com as novas instalações. Na nossa escola, visitamos as salas do 1.º ciclo com frequência, partilhando vivências e produtos culturais que vão surgindo no dia-a-dia. É ainda vantajoso contemplar momentos de contacto entre as crianças e as famílias das diferentes etapas de educação, o que fazemos mediante grupos heterogéneos, festas conjuntas, recreio partilhado, apresentações de projetos, troca de trabalhos e visitas em conjunto. O acolhimento das novas crianças deve ser planeado: receção por parte dos adultos; apresentação da escola; e apoio por parte das crianças mais velhas.
O trabalho que fazemos é extensível a famílias, serviços e parceiros, numa construção abrangente e integradora. As famílias são incentivadas a participar ativamente connosco, através de visitas às salas, participação em projetos, reuniões, espaços de reflexão, passeios, festas, atividades especiais na escola, entre outros. A colaboração com a comunidade é também de grande valia, uma vez que a educação não pode ser um processo solitário – todos são necessários e tem de haver um compromisso geral, estabelecendo-se relações de confiança. Todos têm de assumir o seu papel na educação e formação das crianças, de forma a terem, no futuro, adultos capazes, saudáveis e adaptados ao meio.
N’A Voz do Operário não pretendemos simplesmente ter crianças obedientes e com boas notas. Queremos que sejam empáticas, com voz ativa, emocionalmente estáveis, autoconfiantes, proativas, bem adaptadas, resilientes, criativas, com espírito crítico e possuidoras de valores fundamentais, tornando-se adolescentes e adultos felizes, integrados na sua família e comunidade