As edições Avante!, lançaram na recente Feira do Livro de Lisboa, o livro Saramago, um escritor com o seu povo, com o qual se procura, neste ano de Comemoração Centenária do grande escritor, homenagear o autor de Levantado do Chão, a partir de textos inéditos que produziu para intervenções no âmbito da sua militância no PCP, que reflectem e sublinham a intensa actividade política de José Saramago «em vários momentos decisivos da nossa história colectiva.»
Nesta colectânea, fundamental para se conhecer o lado activo e politicamente empenhado de um escritor de génio, que sempre afirmou a sua filiação partidária, declarando que se a atribuição do Prémio Nobel de Literatura o obrigasse a abandonar o seu Partido, negaria o Prémio, conta, para além dos textos interventivos de José Saramago, com textos ensaísticos e depoimentos, sobre o percurso político e literário de um dos maiores vultos da cultura literária universal de, entre outros, Jerónimo de Sousa, Modesto Navarro, Manuel Gusmão, Margarida Machado, Correia da Fonseca, Mário de Carvalho, José Manuel Mendes, Jorge Sarabando, Jorge Cordeiro, Anabela Fino, Alice Vieira, Leandro Martins, Aurélio Santos e Domingos Lobo.
A obra romanesca de José Saramago, a que podemos considerar dentro de um universo temático que inventaria e reflecte esse estranho e equívoco desígnio do ser português, ou seja, da singularidade histórica, cultural e idiossincrática das gentes que, desde o século XII, habitam o rectângulo ibérico, que na diversidade temporal que a obra de Saramago abarca, inclui títulos tão diversos como Manual de Pintura e Caligrafia, Levantado do Chão, Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis, A Jangada de Pedra e História do Cerco de Lisboa e esse perturbador romance que é A Caverna – recorrência a que Saramago só voltará, com esfuziante ironia, num dos seus brilhantes títulos finais: A Viagem do Elefante, ciclo que inclui Clarabóia, esse magnífico romance póstumo. Considerando-se assim, em definição conjuntural, a sua obra que se prospetiva inquiridora do real e do histórico, textos que na sua singularidade configuram os métodos de abordagem analítica, de agilização linguística, essa perspetiva lúcida e assertiva sobre uma certa realidade portuguesa, que estruturam o modo literário, como lhe chamou Maria Alzira Seixo, ou seja, as plurais dominantes estéticas que configuram o discurso ficcional saramaguiano e a sua marca ontológica.
Que faremos nós, hoje e aqui, com esse legado único, com esse monumento de palavras que os livros de José Saramago são? Este livro José Saramago, um escritor com o seu povo, ajudam-nos nessa herança nossa, a entender melhor os universos que nos legou.
Saramago, um escritor com o seu povo – Edições Avante!