Para um cidadão que procura estar informado, que lê jornais, vê televisão e navega na internet, as informações chegam ao jeito de torrentes de onde será necessário sacar certezas e expurgar incorreções.

Confrontou-se esse cidadão nas últimas semanas com confusa informação pois viu sobreposta à noção de “bairro social” a designação de “bairro problemático” através de fugazes imagens aéreas que apontavam os prédios da triste Jamaica, a Cova da Moura e o Bairro das Amendoeiras, na revigorada Marvila, englobando-os como sendo pasto favorito de insidioso vírus.

Como se qualquer deles não tivesse história, paisagem, vivência e realidade tão diferentes de todos os outros…

Carece, aliás, de reflexão a própria noção de “bairro social” ou de “habitação social” pois que entre os pilares da sociedade atual – a Habitação, o Trabalho, a Segurança e a Circulação – só a primeira exibe o aposto de “social” quando, na realidade, não há uma educação-social, nem uma saúde-social, nem uma proteção-civil-social, nem transportes-sociais destinados a grupos diferenciados da população em função das suas posses.

O Estado constrói hospitais, centros de saúde, escolas, quartéis de bombeiros e todos os equipamentos necessários ao bem-estar da população sem cuidar de saber quanto ganha quem os procura e usa.

Não será isso o que sucede em relação à habitação. Um avassalador mercado produz em excesso casas caras (basta ver o frenesim publicitário que enche as secções do imobiliário de jornais e revistas…) enquanto sucessivos governos lançam nos seus orçamentos magríssimas verbas para a construção direta de habitação, única via de acesso a uma habitação condigna para a maior parte da população.

E se tudo isso não fosse consequência da ânsia de arranjar uma casa e ter levado alguns a ocuparem estruturas inacabadas de prédios altos e lá, em qualquer que fosse o andar, construírem barracas e ligarem esgotos, como na Jamaica; outros caírem no sórdido mercado negro da habitação nos bairros de “génese ilegal” (cínica designação) como na Cova da Moura e de todos eles e mais os da classe média urbana serem obrigados a viver em sítios de altas densidades, afastados das fontes de trabalho e a utilizarem em penosas deslocações transportes insuficientes e atafulhados.

Será este o quadro, pintado a traços largos mas realista, da vida na Grande Lisboa e será este o ambiente próprio para que o maldito vírus se espalhe.

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