Durante décadas, os dois principais partidos do arco da governação, PS e PSD, depauperaram as condições de vida dos trabalhadores. Abdicaram da soberania nacional, destruíram a nossa capacidade produtiva e degradaram os serviços públicos. Empurraram a economia portuguesa para setores de baixos salários como o turismo. O descrédito dos partidos deste sistema fez soar os alarmes nos gabinetes das administrações dos grupos económicos e financeiros.
É assim que surge o Chega. Incorporada durante anos no PSD e no CDS-PP, a extrema-direita saudosista reagrupou-se à volta de André Ventura, ex-autarca do partido então liderado por Pedro Passos Coelho. A comunicação social fez o resto. Em 2019, com apenas um deputado, o próprio Ventura, o Chega tinha mais espaço mediático que os 12 deputados do PCP juntos. Era bastante óbvio para quem quisesse ver. Os patrões das televisões, rádios e jornais foram a catapulta para um partido que se diz anti-sistema mas que recebe financiamento de grandes empresas nacionais. Como seria expectável pela parte de forças com propósitos reacionários, nunca iriam canalizar a revolta contra os baixos salários, os preços na habitação ou a degradação dos serviços públicos. O Chega seguiu e aprofundou a receita dos patrões: virar trabalhadores contra trabalhadores, fomentar o individualismo, a resignação e o revanchismo.
Com ameaças anti-democráticas, incluindo a revisão da Constituição para retirar direitos, liberdades e garantias, o novo quadro eleitoral abre caminho a uma campanha de agressão aos trabalhadores. Para lá das análises, que são necessárias, importa falar do que fazer. “Não basta interpretar o mundo, é preciso transformá-lo”, escreveu Karl Marx. A receita é tão antiga como as desigualdades sociais. Precisamos de nos organizar e intervir nos sindicatos, nas comissões de moradores, nas coletividades, nas associações de estudantes e nos restantes movimentos sociais. Ancorados nas aspirações das maiorias, mobilizando olhos nos olhos para as lutas do nosso tempo, precisamos de mostrar que estamos cá, prontos para o combate, ao lado dos trabalhadores e do nosso povo.