Há 50 anos, uma esquadra da NATO entrava no Tejo em pleno processo revolucionário. Também em 1975, o terrorismo bombista da direita portuguesa com o patrocínio do Ocidente assassinou militantes de esquerda e destruiu muitas das suas sedes, sobretudo do PCP. A própria Voz do Operário foi vítima de uma ameaça de bomba, tendo de proteger centenas de crianças que estavam nas suas instalações. De cada vez que um povo escolhe divergir dos interesses norte-americanos, põe a cabeça no cepo do imperialismo.
As primeiras decisões políticas anunciadas por Donald Trump mostram que os Estados Unidos enfrentam de forma consciente o seu declínio económico, político e militar. O protecionismo é uma decisão soberana da Casa Branca mas é o espelho de um país que tenta adaptar-se à nova realidade. Não chegámos aqui do nada. Desde o fim da União Soviética, Washington tentou construir um mundo que girasse à sua volta. Fê-lo através da diplomacia e através da força. Chantagem económica, sanções, golpes de Estado e invasões militares foram alguns métodos usados. Na Venezuela, a Casa Branca usou todos eles. Como no caso de Cuba, nenhum funcionou.
Podemos estar ou não de acordo com o regime político escolhido pelos venezuelanos quando aprovaram em 1999 a Constituição em vigor, contudo é a eles que cabe decidir a forma como querem viver. Sem ingerências, o povo venezuelano deve ver respeitado o seu direito a construir soberanamente o seu futuro. Esta regra pode ser aplicada a muitos outros lugares do planeta onde o Ocidente tenta ainda hoje interferir como no bloqueio a Cuba, no apoio a Israel contra a Palestina ou no apoio ao Ruanda contra a República Democrática do Congo. A relação entre povos deve ser pautada pela solidariedade e respeito mútuo.