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145º Aniversário do Jornal “A Voz do Operário”

O Jornal “A Voz do Operário” está de parabéns, comemora no próximo dia 11 de outubro o seu 145º aniversário.

A história da fundação do nosso Jornal é sobejamente conhecida, mas nunca é demais recordá-la, tanto mais que, por estarmos no início do ano letivo, contamos com um conjunto importante de novos sócios que eventualmente a não conhecem.

Entrava-se no último quartel do século XIX e os operários tabaqueiros, viviam tempos muito difíceis, trabalhando em péssimas condições higiénicas, com matérias que lhes danificavam fortemente a saúde, sofrendo de doenças pulmonares, como a tuberculose, auferindo vencimentos insignificantes, em que apenas uma ínfima parte da riqueza gerada pelo tabaco chegava aos seus bolsos. Como foi na altura descrito, a vida dos operários tabaqueiros resumia-se a “trabalho, fome, nudez e desabrigo, desde que nascem até que morrem”.

Os operários contestavam as condições a que estavam sujeitos e aproveitavam a folga de almoço para falar dos seus problemas laborais e numa delas, em agosto de 1879, Custódio Gomes, lamentou o facto de os jornais de então terem recusado a publicação de um artigo com os seus problemas e reivindicações e proferiu a célebre frase: “Soubesse eu escrever, que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos Jornal; bem ou mal, o que lá se disser é o que é a verdade. Amanhã reúne a nossa Associação e hei de propor que se publique um periódico que nos defenda a todos e mesmo aos nossos companheiros de outras classes”.

Nessa reunião Custódio Gomes transmitiu a sua ideia e foi Custódio Braz Pacheco, que a desenvolveu, relembrando os problemas da classe e a ausência de um Jornal dedicado às batalhas laborais e à emancipação dos trabalhadores. Um Jornal onde não fosse preciso mendigar um espaço para a publicação de notícias, porque ele próprio estava ao serviço da causa operária.

E assim, em 11 de outubro de 1879 foi publicado o primeiro número do Jornal “A Voz do Operário”, identificado como “Órgão dos manipuladores de tabacos”. Custódio Braz Pacheco assinou o editorial, no qual são delineadas as diretrizes do Jornal, designadamente: “pugnar denodadamente pelos interesses materiais e morais da classe que representa; concorrer quanto possível para a educação e moral da classe operária e instrução do povo, defender os que sofrerem injustiças”.

Todavia, o Jornal enfrentava muitas dificuldades, tanto organizativas como económicas, pelo que na sequência de várias reuniões, foi decidido criar uma Instituição que lhe desse suporte e assim, em 13 de fevereiro de 1883, numa assembleia geral de assinantes, foi fundada a Sociedade “A Voz do Operário”.

O Jornal viveu a luta contra a monarquia e nas suas páginas ecoou a alegria da vitória da Revolução de 5 de outubro e consequente instauração da República, bem como depois a preocupação com o seu desmoronamento.

Viveram-se tempos difíceis durante a ditadura fascista, mas houve sempre um grande esforço para que o Jornal fosse fiel aos seus princípios.

Saliente-se que sequência do golpe fascista de 28 de maio de 1926, o jornalista José Fernandes Alves escreveu no Jornal que “a ditadura militar não a aceitaremos nós, não a aceitará o povo português, cioso da sua liberdade e das suas regalias”.

Também a fundação do MUD (Movimento de Unidade Democrática) foi devidamente destacada nas suas páginas, tendo estado presente na reunião que lhe deu origem, em 8 de outubro de 1945.

A revolução do 25 de Abril de 1974 mereceu, naturalmente, um grande destaque e regozijo no Jornal. Nele se deu conta dos avanços da revolução e das inerentes melhorias das condições de vida dos trabalhadores e do povo, como se combateram os recuos contrarrevolucionários da política de direita que se seguiu, a qual restringiu muitas das conquistas alcançadas.

O Jornal mantem a publicação regular ao longo dos seus 145 anos de existência, sendo o mais antigo Jornal operário em publicação, constituindo um importantíssimo instrumento para o conhecimento da história do movimento social em Portugal.

Nascido da luta dos operários, para dar voz aos que a não tinham, o Jornal cumpre os desígnios dos seus fundadores, mantendo-se irredutível na defesa dos justos interesses dos trabalhadores, constituindo um espaço onde as suas aspirações, reivindicações e lutas continuam a ter um profundo eco.

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