A maré humana que encheu Lisboa, Porto e outras cidades do país mostrou que Abril está enraizado na nossa memória mas, sobretudo, que está presente nas lutas que travamos no presente por um futuro melhor. Em contra-mão, há televisões que irresponsavelmente entrevistam orgulhosos ex-agentes da PIDE e dão voz às carpideiras do fascismo. O branqueamento dos crimes da ditadura, em conjunto com a promoção da ideia de que a democracia só se conquistou verdadeiramente com o 25 de Novembro, é consequência do trauma histórico da perda parcial do poder económico e político por parte dos grandes grupos económicos e financeiros, velhos aliados de Salazar e Caetano. De facto, o 25 de Novembro representou o princípio do desastre em que nos encontramos hoje com a devolução posterior do poder às elites que dominavam o país durante o fascismo.
Há 50 anos, a imensa maioria saiu à rua para celebrar o 1.º de Maio em liberdade e reclamar uma mudança estrutural na sociedade. A força dos trabalhadores organizados, protagonistas da luta contra o fascismo, impos, desde logo, com os comunistas à frente do Ministério do Trabalho conquistas fundamentais como o salário mínimo, férias pagas, contratação coletiva e o direito à associação, organização e ação sindical. A revolução, obra coletiva do povo português em aliança com o MFA, traduziu-se em importantes direitos sociais, económicos, políticos e culturais. A intensa participação dos trabalhadores e do povo na vida comum foi a expressão política mais democrática que o país conheceu. E é isso que a direita não perdoa nem quer de volta. Que estejamos conscientes e organizados e que a política seja mais do que um voto na urna de quatro em quatro anos. Celebremos Abril lutando pelo futuro que merecemos.
Editorial
Editorial