Opinião

Aeroporto de Lisboa

Novo aeroporto de Lisboa ou a arte de não fazer

Os mais velhos estarão recordados que estávamos no início dos anos 70 quando foi escolhido o local para o novo aeroporto de Lisboa: Rio Frio. Os anos foram passando e depois de muitas comissões técnicas e consequentes estudos veio a público a opção pela Ota. Foi então que um general da Força Aérea, autor de projetos de vários aeroportos, pessoa altamente especializada nesta área, levantou o problema de a localização escolhida não permitir a construção de uma pista para ventos laterais, sugerindo como alternativa a zona do Campo de Tiro da Alcochete.

Perante os argumentos técnicos apresentados, a que se juntaram os económicos, considerando que os terrenos eram maioritariamente públicos, a adesão à proposta foi maioritariamente esmagadora. Até um ministro que ficou conhecido pela alcunha do “jamais” acabou por aceitar. Parecia que tudo se encaminhava para o empreendimento avançar, tendo-se iniciado os estudos para as acessibilidades, nomeadamente a terceira travessia do Tejo, conhecida como TTT.

Acontece, porém, que alguém olhou para a ANA, empresa pública de aeroportos, sempre e significativamente lucrativa, em 2017 tinha apresentado um resultado positivo de cerca de 248 milhões de euros e considerou que tal negócio não podia ser público, logo tinha de ser privatizado. O processo de privatização, esse foi rápido e levou a que quando se tratou de avançar com o processo do novo aeroporto surgiram escolhos e apareceu em cima da mesa o Montijo como alternativa.

A contestação tem sido e continua a ser enorme, nomeadamente das populações atingidas. A história é recente e bem presente na memória coletiva. Assinalar apenas que é mais uma demonstração do que representa a entrega do interesse público ao privado, que neste caso foi uma entrega que atinge a própria soberania nacional. Para responder ao problema foi usada a técnica de não resolver: criou-se uma comissão, cujo resultado foi apresentar cinco hipóteses que irão levar a mais discussões mais conflitualidades e, entretanto, nada avança além do gasto inútil de milhões de euros em estudos.

Talvez um dia alguém se lembre de que estamos perante o que poderá ser um record. Mais de 50 anos passados sobre a primeira escolha ainda não sabemos onde será construído o novo aeroporto de Lisboa.

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