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“Com a luta organizada é possível alcançar a vitória”

Durante 54 dias e 54 noites, os trabalhadores dos bares dos comboios da CP mantiveram-se acampados em frente às estações de Santa Apolónia, em Lisboa, e de Campanhã, no Porto, para defender os postos de trabalho e exigir o pagamento dos salários em atraso.

“Foi um processo desgastante mas vencemos”, é desta forma que Luís Baptista, um dos trabalhadores dos bares dos comboios e dirigente do Sindicato da Hotelaria do Sul, se refere à luta travada durante praticamente dois meses. Desde que a empresa Apeadeiro 2020 foi escolhida pela CP para prestar serviços nos bares e cafetarias dos comboios alfa pendular e intercidades, os trabalhadores tiveram de responder com pré-avisos de greve aos sucessivos atrasos salariais. “Começaram a pagar a horas e pensávamos que a situação estava estável”, recorda. Mas não foi assim. No fim de janeiro, o salário não caiu nas contas dos trabalhadores e só com uma greve conseguiram o pagamento. Contudo, foi o último salário pago.

“Tínhamos duas principais reivindicações. O pagamento dos salários em atraso e o regresso aos postos de trabalho, por um lado, e que se pudesse resolver de uma vez por todas estes problemas com a nossa integração na CP. Nós trabalhamos nos comboios da CP, trabalhamos sob diretrizes colocadas no caderno de encargos a terceiros pela CP e damos a cara pela CP”, explica Luís Baptista.

O processo de luta foi “em crescendo”. A 3 de março, fazem uma vigília noturna e reúnem-se em plenário decidindo que vão continuar acampados em frente a Santa Apolónia. A seguir, os colegas de Campanhã fazem o mesmo. O processo de luta envolveu concentrações em frente ao Ministério das Infraestruturas, cortes de linha e pressão sobre a CP. “Todo este processo foi arrancado a ferros até a CP mandar a empresa embora”, afirma. “Já não cumpriam com o caderno de encargos, nem água tínhamos para vender aos passageiros. A nossa primeira grande vitória foi a denúncia do contrato, depois foi pressionar para abrirem um novo concurso”.

O também dirigente sindical considera que a pressão dos trabalhadores e o impacto na comunicação social acabou por desbloquear a situação. “A verba de três milhões é importante. É cinco vezes superior ao que havia antes. Com isso pagaram-nos também os salários atrasados”. Viram que não iam desistir, defende, e isso terá levado a um procedimento contratual de emergência.

“Estes trabalhadores são de fibra. Passaram 54 noites, em lugares com poucas condições, havia frio, chuva, não recebiam o salário, havia contas por pagar. Acreditámos que era possível vencer e isso animou-nos”, conta. “Várias dezenas de sindicatos da CGTP manifestaram-nos a solidariedade ativa. Em palavras mas também com apoio económico para apoiar a luta. Doações de bens alimentares e produtos de higiene para apoiar os trabalhadores e suas famílias. Os trabalhadores dos bares dos comboios têm uma longa tradição de organização sindical e estão ainda mais unidos do que já estavam e perceberam que com a luta organizada é possível alcançar a vitória”.

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