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“O Jardim da Parada é o nosso ponto de encontro”

“As nossas raízes estão aqui, o metro pode estar noutro lugar” são as palavras inscritas numa faixa entre duas árvores no Jardim da Parada. Ali bem perto, a pianista Catherine Morisseau toca sentada em cima de uma carrinha de caixa aberta para a população deste bairro de Campo de Ourique, em Lisboa. É mais uma ação do movimento Salvar o Jardim da Parada que luta pela preservação deste espaço verde e contra a instalação neste lugar do estaleiro para a construção da estação de metro prevista para Campo de Ourique.


Uma das ativistas é Margarida Vicente, moradora de Campo de Ourique há 52 anos, que explica à Voz do Operário que este movimento foi criado em princípios de julho depois de sessão de esclarecimento do Metro de Lisboa na junta de freguesia. “A consulta pública terminou a 2 de junho depois de muito secretismo. Houve uma sessão a 26 de maio e nós não sabíamos de nada. Acabámos por pedir uma sala à junta e formámos o movimento”, explica.

Como espaço de lazer e convívio, este jardim foi assim batizado porque era aqui que se realizavam as paradas militares do quartel vizinho. Segundo a autarquia, a construção deste lugar deu-se já depois de o bairro estar parcialmente urbanizado e há quatro árvores classificadas: dois metrosideros, uma sequoia e um cipreste-dos-pântanos. Para além de um coreto e um quiosque com esplanada, onde há quem leia, converse ou jogue às cartas, há também um pequeno lago artificial.


Entre várias iniciativas, a população mobilizou-se para salvar este jardim, também com o apoio do comércio local que disponibiliza, em cerca de 20 estabelecimentos, uma petição que já ultrapassou as 8 mil assinaturas. No documento, o movimento exige que seja encontrada “uma solução alternativa para a estação do metropolitano de Campo de Ourique, fora do Jardim da Parada” e alerta para as consequências das obras para a configuração atual do espaço e para a dinâmica social.

Para os ativistas, este é “o único jardim do bairro, património natural, local de encontro e fruição de gerações, crianças e adultos”, um espaço “apropriado há muito pela população”, que “não pode ser sacrificado para a construção da estação do metropolitano”. Apesar de defenderem a melhoria da mobilidade, entendem que isso não deve acontecer “à custa da sua destruição e da destruição das suas árvores centenárias”.

Segundo Margarida Vicente, há 81 pareceres, muitos deles negativos, e enumera algumas das associações que estão ao lado da defesa do Jardim da Parada: Quercus, Fórum Cidadania de Lisboa, Plataforma em Defesa das Árvores e os Amigos da Tapada das Necessidades. A ativista explica que o movimento fez uma queixa à provedoria da justiça pela falta de resposta do Metro de Lisboa ao pedido de acesso aos estudos que sustentam o projeto, uma vez que há outras propostas apresentadas por engenheiros durante o processo de consulta pública.

No dia 27 de outubro, por proposta do PCP, foram vários os ativistas que participaram em debates públicos sobre os impactos para a população do traçado da linha vermelha no âmbito da Assembleia Municipal. “Todos os partidos estão do nosso lado, exceto o PS”, esclarece. “Em Barcelona e noutras cidades, andam a estudar como colocar mais árvores para diminuir o calor nas cidades e aqui querem tirar. O Jardim da Parada é a nossa sala de visitas, o nosso ponto de encontro”.

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