Local

Comunidade

Iniciativa dos Comuns: isto está tudo ligado!

Oficina de comunicação contra o aumento de preços nos bairros, realizada na Cova da Moura, Amadora.

“Isto está tudo ligado”, comentava-se muito provavelmente na Cova da Moura, num destes fins-de-semana, na assembleia que reuniu populares, “umas largas dezenas”, académicos, jornalistas, gente interessada em refletir sobre “o aumento dos preços e da forma como ele atinge particularmente os segmentos mais vulneráveis das classes populares, cuja fatia dos rendimentos é alocada para despesas que estão exatamente no centro do aumento dos preços”, explicaria João Rodrigues, economista, e professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

E, na verdade, estava tudo ligado, “a questão dos preços, a precariedade laboral, dos transportes insuficientes, do preço da eletricidade, da luz à bilha de gás, até à questão do próprio preço de bens alimentares”. Mas falariam também “dos salários e tentando responder à necessidade de explicações simples, mas pedagógicas, que não sejam simplistas, como os efeitos entre o real e o nominal, que é uma coisa que escapa às vezes a pessoas com diferentes níveis de instrução, aquilo a que os economistas chamam a ilusão monetária”.

E é este vai e vem que terá levado o professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra à Cova da Moura? Sim, simplesmente “participar numa iniciativa da Iniciativa dos Comuns”, organizando uma reflexão com várias pessoas das camadas intelectuais, das camadas populares, “fazendo esse vai e vem a partir de temas ou da valorização de temas que provavelmente não estão ainda tão desenvolvidos quanto é necessário estarem”, esclarece João Rodrigues.

Mas, então é IC (Iniciativa dos Comuns) e não IL (Iniciativa Liberal)? Exatamente! explica o economista. “IC em contraponto a IL”, porque a Iniciativa dos Comuns surge “para valorizar o comum, aquilo que é da comunidade, e o nome Iniciativa dos Comuns, é porque promove iniciativas que surgem em contraponto à Iniciativa no singular (Iniciativa Liberal) que está muito associada hoje a uma nova ofensiva das velhas ideias liberais”.

A IC surge entre amigos, sem filiação partidária, “mas com cumplicidade política” e que tiveram a mesma reação “relativamente aos resultados negativos das eleições”, que colocou o país “numa situação perigosa”. “O PCP, não sendo condição suficiente, é condição absolutamente necessária”, porque “ao mesmo tempo que um certo campo político enfraquece, tudo enfraquece”. E foi esse “o gatilho”, diz João Rodrigues.

“A ausência de filiação partidária não significa a neutralidade”, afirma, mas, “para que não venha ninguém ao engano, há também uma tomada de partido que é clara”, sobretudo numa altura em que “a relação de forças na sociedade portuguesa, não só com a Iniciativa Liberal, mas também com este assomo de tendências fascizantes com peso político, exige o concurso, a participação e a organização de várias pessoas nas camadas intelectuais, nas camadas populares”, valorizando a reflexão em torno de temas como “a questão ecológica e os temas laborais, a ligação entre os temas do combate ao racismo e do anti-imperialismo, da questão das liberdades e da sua valorização”.

Depois do pontapé de saída na Faculdade de Economia de Coimbra, a primeira iniciativa da IC, que reuniu professores e alunos de economia, a IC tem núcleos a funcionar em Coimbra, Lisboa e Porto. Há já inúmeras intervenções nas redes sociais, bem como a perspectiva de elaboração de vídeos pedagógicos sobre vários temas: está já disponível a reflexão de Flávio Almada (LBC) sobre criminalização do rap e, em breve, Tiago Mota Saraiva falará sobre a necessidade de novas cooperativas para responder aos problemas da habitação.

Começaram também já as assembleias de reflexão nos bairros, em Lisboa.

Artigos Relacionados