Foi na tarde do dia 7 de novembro que as portas do mítico salão de Festas d’A Voz do Operário se abriram para mais uma Gala de Fado da centenária instituição. O programa foi ao encontro do que estes anuais eventos já nos habituaram: um conjunto de 13 artistas e instituições ligadas ao fado seriam homenageados durante a tarde, e um elenco constituído por sete fadistas daria ainda mais música aos presentes.
Antes mesmo de se iniciar o espetáculo musical, Manuel Figueiredo, presidente da direcção d’A Voz do Operário, fez as honras da casa, dando as boas vindas aos presentes e reiterando a importância que esta realização representa para a instituição, agradecendo a “prova de afecto e solidariedade” protagonizada pelos participantes, que a levam a cabo gratuitamente, a fim de ajudar a instituição. O presidente relembrou ainda a importância que a A Voz do Operário teve aquando a elaboração da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, e para a qual contribuiu com o seu espólio.
Conduzida pelos actores Joaquim Nicolau e Maria Faleiro, o espetáculo começou com a apresentação do conjunto de músicos responsável pelo acompanhamento musical da tarde: Nuno Lourenço na viola baixo, Francisco Pereira na guitarra portuguesa, e Carlos Viçoso na viola de fado, conduziram, durante as três horas seguintes, as vozes que pisaram o palco d’A Voz do Operário.
Os fadista Ana Laíns, Manuel Barbosa, Célia Leiria, André Baptista, Sara Paixão, Carla Pires e Yola Dinis intermediaram, com as suas brilhantes atuações, os momentos de homenagem que dão mote à Gala de Fado. Foram homenageadas treze importantes figuras, ligadas ao fado e que tiveram ou que têm tido um papel destacado na história e revelação do fado enquanto expressão cultural, bem como n´A Voz do Operário. Os prémios revelação foram entregues a dois jovens fadistas, Mafalda Vasques e Nuno Rocha. Rui Costa, figura incontornável do bairro da Mouraria, arrecadou o prémio Popular. Este ano, o prémio Poesia e Literatura rumou a norte, para homenagear José Fernandes Castro, poeta do Porto e apaixonado pelo fado. Os prémios Compositor foram entregues ao guitarrista Mário Pacheco e ao violista Paulo Faria de Carvalho. O actor e encenador Luís Aleluia voltou a pisar as tábuas do palco d’A Voz do Operário, mas desta vez para receber o prémio na categoria Artes e Espetáculo. Outra conhecida da casa é Joana Amendoeira, amiga de longa data da instituição, tendo por isso mesmo sido agraciado com o prémio Solidariedade – prémio dedicado a pessoas que, ao longo da vida, mantêm uma relação de ajuda e solidariedade com A Voz do Operário. O prémio Lisboa foi entregue à tão lisboeta Marina Mota. Já o prémio divulgação – por norma entregue a instituições investidas na divulgação do fado enquanto expressão cultural – foi entregue à Academia da Guitarra Portuguesa e do Fado. O guitarrista Pedro Amendoeira recebeu, em representação da galardoada Mafalda Arnauth, que não pode estar presente por motivos de saúde, o prémio Tributo. Os veteranos João Casanova e Maria Armanda foram justamente agraciados com o prémio Carreira.
Toda o evento foi transmitido em directo, numa operação da responsabilidade da Rádio Movimento, rádio oficial da 5.ª Gala de Fado d’A Voz do Operário, numa emissão conduzida por Vítor Machado e pelo artista João Loy.
A ligação entre A Voz do Operário e o fado data de longa data, quando, logo no início do séc. XX o jornal publicava poetas de fado, que assim defendiam o fado enquanto expressão cultural das classes trabalhadoras. Eram também realizados, nas suas instalações, vários espetáculos dedicados à canção nacional. A instituição, pretende, assim, com a realização anual desta gala, prosseguir e projectar esta relação. Para além desta celebração e das homenagens prestadas, a instituição utiliza este momento para sensibilizar os presentes e apelar à solidariedade, sendo este um espetáculo que pretende angariar fundos para a renovação do icónico Salão de Festas onde decorre.
A organização congratulou-se com mais um feito, e promete estar já a preparar a edição de 2022.