Internacional

Fascismo

Violência da extrema-direita na europa

Os ataques recentes da extrema-direita em Itália e na Grécia, bem como a sua ascensão por toda a Europa e não só, são o reflexo do falhanço daquela que nos é apresentada como a única possibilidade de organização social e política.

A porta escancarada aos filhos do neoliberalismo

Dez de Outubro de 2021, em Roma, militantes de extrema-direita e anti-vacinas saem à rua para contestar medidas propostas pelo governo, relacionadas com a criação de um certificado de vacinação semelhante ao que temos hoje em Portugal, que governo italiano pretende alargar como obrigatório para todos os trabalhadores. A reboque, os manifestantes invadiram e atacaram a sede da Confederação Geral Italiana do Trabalho, central sindical que representa mais de 5,5 milhões de trabalhadores. Na Grécia, no final de setembro, neonazis atacaram militantes de esquerda que distribuíam propaganda à porta de uma escola, em Salónica. Um escalar de violência que deverá acentuar-se nos próximos tempos.

O papel da UE na normalização da extrema-direita

A tenebrosa resolução aprovada pelo Parlamento Europeu, a 19 de setembro de 2019, que equipara nazismo e comunismo, ironicamente no ano que marcava o 80.º aniversário do deflagrar a II Guerra Mundial, é hoje utilizada como arma de arremesso político para acentuar o preconceito anticomunista e aligeirar a extrema-direita em toda a UE. Por curiosidade, os eurodeputados portugueses do PS, PSD, CDS e PAN votaram favoravelmente essa resolução. A UE, com a Alemanha à cabeça sendo a sua potência hegemónica, tem a particularidade de ser um projeto político de dominação económica e vice-versa. A sua estrutura, que procura centralizar em Bruxelas as decisões sobre o espaço da UE, é incapaz de dar resposta aos problemas estruturais de cada país e, mais grave, vai avançando a passos certos numa cedência de soberania cada vez maior por parte dos povos.

Soberania a cargo dos burocratas

A necessidade de submeter diplomas estruturantes da organização política e social de cada país aos gabinetes de Bruxelas, constitui um atentado à liberdade dos povos da UE. Cada um, com as suas especificidades, está impedido de decidir sobre os seus destinos, a sua realidade e as suas necessidades. O cutelo de Bruxelas está pronto para decidir o que é ou não aceitável. Este distanciamento cada vez maior entre eleitores e decisores tem dois efeitos nefastos: primeiro, dá rédea livre aos neoliberais das instituições europeias para aprofundarem a sua política neoliberal de degradação dos serviços públicos com vista à sua privatização, precariedade, baixos salários, aumento da idade da reforma e inação no combate aos offshores, etc; segundo, quando estas medidas são caucionadas por partidos que se identificam como sendo de esquerda, temos a tempestade perfeita.

A urgência do combate político

Combater a extrema-direita, politicamente, não necessita de grande ciência. Basta que a esquerda implemente políticas de esquerda, que não se deixe capturar pelos interesses instalados da social-democracia, sob as suas diversas capas, de partidos que se dizem socialistas até alegados ecologistas. É também – mas não só – a falta de resposta aos problemas quotidianos daqueles que afirmam representar a esquerda, que dá argumentos à extrema-direita. Não é credível que um verdadeiro governo de esquerda mantenha, por exemplo, salários que não permitem a um trabalhador sair da pobreza. Ou que se recuse a atuar perante o aumento dos custos da energia e dos combustíveis, quando se aproxima o Inverno, a época do ano em que estes custos mais se acentuarão e serão sentidos nos bolsos da população.

Não há neutralidade no espaço 

Ao contrário do que sucede com a direita e extrema-direita, não é fácil a membros de partidos de esquerda, principalmente aqueles que assumem, frontalmente, a necessidade imperativa de transformar a sociedade e não a atitude reformista de humanizar o capitalismo, como se fosse possível retirar-lhe a sua natureza predatória e autofágica. Restariam, assim as redes sociais e canais de mensagens. Porém, um estudo recente da própria rede social Twitter reconhece que o seu algoritmo favorece tweets de contas associadas à direita. O Facebook continua com um problema, que se recusa a resolver, de permissão de publicações de desinformação que se recusa a controlar. Os canais de mensagens, então, são pasto para uma extrema-direita que não é nova, que se alimenta do sistema, pretende aprofundá-lo, mas reclama contra ele. De fato e gravata, respeitosos e polidos comentadores com tempo de antena nas rádios, canais de tv e demais projetos de media debitam todos as mesmas coisas com tons de voz diferentes. A falta de autocrítica de jornalistas, essencialmente, sobre o avanço a extrema-direita e o seu contributo para ele é, também, um sintoma de como uma parte da classe se vai acomodando. Para haver jornalismo, tem de haver espaço, tempo e meios. Se alguns há que vivem bem assim, porque nunca viveram de outra forma, outros há que merecem mais. Muito mais.

O fascismo combate-se nas ruas 

Com a pandemia, os principais espaços de interação social transferiram-se para uma série interminável de zeros e uns que ganham vida nos nossos telemóveis e computadores. Só pelo que nos impediu de viver em conjunto, a Covid-19 fez-nos recuar vários anos. Mais sozinhos, menos confiantes e com um filtro cada vez mais difícil para discernir o que nos passa pelos olhos, é necessário que, com o abrandamento da doença, voltemos às ruas e ganhemos esse espaço público, o que ainda o é, mobilizando e esclarecendo todos à nossa volta. Organizados, unidos e pronto para responder à altura dos desafios que o futuro nos reserva, sem receios e com a confiança de que é lado a lado que a extrema-direita será, mais uma vez, derrotada. Rompendo com a postura da UE, valorizando, conhecendo e esclarecendo todos, porta a porta, rua a rua, empresa a empresa, escola a escola, universidade a universidade. Demonstrando que podemos e vamos recuperar o espaço que a pandemia roubou e que está a ser ocupado por saudosistas que hoje, como sempre, serão colocados no caixote do lixo da História.

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