Opinião

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142º aniversário do jornal A Voz do Operário

Comemora-se o 142º aniversário do nosso jornal A Voz do Operário.

Como vem muito bem descrito no livro “A Voz do Operário – 135 Anos” (um instrumento essencial para o conhecimento da história da nossa Instituição, cuja aquisição aconselho vivamente a todos os sócios e amigos que ainda não o possuam), foi em Agosto de 1879, quando um grupo de operários de uma fábrica de tabacos de Lisboa aproveitava a folga do almoço para falar dos seus problemas laborais, que Custódio Gomes, lamentando o facto de os jornais de então terem recusado a publicação de um artigo sobre os seus problemas e reivindicações, proferiu a célebre frase: “Soubesse eu escrever, que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos Jornal; bem ou mal, o que lá se disser é o que é a verdade. Amanhã reúne a nossa Associação e hei de propor que se publique um periódico que nos defenda a todos e mesmo aos nossos companheiros de outras classes”.

E nessa reunião, que contou com a presença de muitos operários tabaqueiros, Custódio Gomes deu a conhecer o seu projeto tendo sido decidido criar um Jornal dedicado às batalhas laborais e à emancipação dos trabalhadores.

E assim, em 11 de outubro de 1879 foi publicado o primeiro número do Jornal “A Voz do Operário”, identificado como “Órgão dos manipuladores de tabacos”, tendo Custódio Braz Pacheco assinado o editorial, no qual se delinearam as diretrizes do Jornal, designadamente: “pugnar denodadamente pelos interesses materiais e morais da classe que representa; concorrer quanto possível para a educação e moral da classe operária e instrução do povo, defender os que sofrerem injustiças”, prosseguindo noutro texto: “fazermos sentir aos nossos opressores que, pelo trabalho e pela palavra, temos a força precisa para sacudirmos o jugo de ferro que nos quiseram impor”. 

Mas as dificuldades de manutenção do jornal eram muitas, tanto organizativas como económicas, mesmo contando com a preciosa ajuda de beneméritos, com destaque para a escritora Angelina Vidal, pelo que na sequência de várias reuniões, foi decidido criar uma Instituição que desse suporte ao Jornal e assim, em 13 de fevereiro de 1883, numa assembleia geral dos assinantes do semanário, foi fundada a Sociedade “A Voz do Operário”.

Na primeira década de existência do Jornal, muitos editoriais são assinados por Angelina Vidal, que vincou no Jornal o seu ardor republicano e defendeu os direitos das mulheres e das classes laboriosas, ao mesmo tempo que combateu as injustiças sociais e o obscurantismo.

Nas páginas do Jornal ecoou a alegria da vitória da Revolução de 5 de outubro e consequente instauração da República, bem como depois a preocupação com o seu desmoronamento.

Na sequência do golpe fascista de 28 de maio de 1926, o jornalista José Fernandes Alves escreve no Jornal que “a ditadura militar não a aceitaremos nós, não a aceitará o povo português, cioso da sua liberdade e das suas regalias”.

A fundação do MUD (Movimento de Unidade Democrática) foi devidamente destacada nas páginas de ”A Voz do Operário”, que esteve presente na reunião que lhe deu origem, em 8 de outubro de 1945.

A revolução do 25 de Abril de 1974 teve no Jornal um grande destaque e regozijo. Aqui se deu conta dos avanços da revolução e das inerentes melhorias das condições de vida dos trabalhadores e do povo, como se combateram os recuos contrarrevolucionários da política de direita que se seguiu, a qual restringiu muitas das conquistas alcançadas.

O Jornal, que manteve a publicação ao longo das suas mais de 14 décadas de existência, faz parte do restrito grupo da imprensa centenária, sendo o mais antigo Jornal operário em publicação, constituindo um importantíssimo instrumento para o conhecimento da história do movimento social em Portugal.

A partir de 2019 o jornal passou também a contar com uma página própria na internet, que vai sendo alimentada com peças do Jornal e outras, possibilitando igualmente a consulta a anteriores edições do Jornal.

Nascido da luta dos operários, para dar voz aos que a não tinham, cumpriu e cumpre os desígnios dos seus fundadores, mantendo-se irredutível na defesa dos justos interesses dos trabalhadores, constituindo um espaço onde as suas aspirações, reivindicações e lutas continuam a ter um profundo eco.

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