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Garagem Liz vai ser transformada em hipermercado

A Avenida Almirante Reis, uma das mais populares e centrais artérias da cidade de Lisboa, vai assistir à instalação de um hipermercado Continente na antiga e histórica Garagem Liz. A proposta da empresa foi aprovada em reunião de câmara com os votos favoráveis do PS, PSD e CDS-PP e contra do PCP e BE.

É já no fim da Avenida Almirante Reis, junto à Rua da Palma, que se ergue um dos edifícios mais singulares da capital. Os terrenos pertenciam à Condessa de Geraz de Lisboa. Segundo o Eco, no final de 1887, foi inaugurado naqueles terrenos o Teatro Circo Real Coliseu de Lisboa e, em 1917, o edifício foi arrendado à Administração dos Correios e Telégrafos, pode ler-se na página da DGPC. Em 1926, o edifício foi demolido e em 1933, a empresa J. Caldas entregou na câmara o pedido de construção da Garagem Liz. O estilo arquitetónico enquadra-se no Art Déco da época.

O imóvel, com uma área total de 2.546 metros quadrados distribuída por dois andares, vai albergar o hipermercado e o estacionamento, uma proposta que tem recebido algumas opiniões negativas. É o caso do arquiteto Tiago Mota Saraiva que contesta o plano para aquele espaço. “Isto contraria a ideia da cidade de 15 minutos. A cidade deve ser determinada por aquilo que falta e num raio de 100 metros há várias superfícies parecidas com aquela”, explicou à Voz do Operário. “Estamos a criar uma densidade de supermercados que não serve o interesse público”.

Defende também que tendo havido alteração de uso “fazia todo o sentido que fosse um espaço de cultura”, recordando que ali já esteve um coliseu. Outro dos problemas apontados é o do estacionamento. “Não podes pensar em ciclovias e depois fazes um parque estacionamento e um supermercado”.

Também a vereadora comunista Ana Jara, uma das eleitas da CDU que votou contra a proposta, se mostrou preocupada com as consequências desta decisão. Em declarações ao AbrilAbril, a arquiteta de profissão denunciou que o projeto é omisso numa série de questões, tanto no impacto que terá do ponto de vista do comércio local e de como se coaduna com a intenção de reduzir o tráfego automóvel e, consequentemente, as emissões de CO2. 

Sendo um edifício classificado pela sua singularidade, Ana Jara considerou que se trata de um plano “completamente indiferenciado” e denunciou a inexistência de um relatório prévio para avaliar o atual estado do edifício. Para a vereadora da CDU, este hipermercado representa uma ameaça para o comércio local, já fragilizado pela pandemia.

Já uma fonte da câmara, contactada pelo Eco, referiu que o projeto “permite reabilitar e salvaguardar o património cultural edificado” e que os mais idosos “ficam com uma oferta comercial mais variada e acessível”.

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