Voz

Cantina Social

Uma Voz no combate à fome e à pobreza

De norte a sul do país, sucedem-se as notícias que dão conta do aumento da pobreza e da fome em várias famílias. Depois de um ano em que a pandemia marcou a atualidade no mundo inteiro e o dia-a-dia de quem vive em Portugal, uma nova crise pode provocar novos retrocessos sociais.

Cantina d’A Voz do Operário presta auxílio a três dezenas de utentes do Refeitório Social

Como em qualquer outro momento, a resposta solidária d’A Voz do Operário mantém-se como bandeira de uma instituição que nasceu com valores de igualdade e justiça social. Nesse contexto, o Refeitório Social d’A Voz do Operário insere-se na Rede Solidária de Cantinas Sociais – Programa de Emergência Alimentar, com o apoio do Instituto da Segurança Social, e abrange 30 utentes. Quando é necessário, a própria instituição assegura um número superior de refeições, ocasionado pela elevada procura de apoio alimentar.

A intervenção levada a cabo com a população mais carenciada assenta numa lógica de solidariedade que perpassa a história d’A Voz do Operário e que tem o objetivo de fazer um acompanhamento que garanta as condições para que os utentes possam deixar de recorrer a este programa de apoio.

Junto da instituição, as pessoas que a ela recorrem encontram um espaço disponível para o auxílio na superação de obstáculos que se lhes vão colocando. Esse apoio pode ir desde questões de organização doméstica até à procura ativa de emprego, passando ainda por várias situações de debilidade emocional.

Diariamente, mulheres e homens recorrem à instituição, numa casa que também é sua, para encontrar no Refeitório Social uma resposta solidária num país marcado por injustiças sociais. É o caso de Alberto Gonçalves. Durante anos, foi jardineiro da autarquia no Campo Grande e chegou exercer esta profissão também na Moita. Agora, com 64 anos, a passar por dificuldades económicas, apenas com o rendimento social de inserção, é um dos muitos utentes que recorre ao apoio d’A Voz do Operário na alimentação. Quando começou a frequentar a instituição, vivia na Rua do Benformoso e caminhava até à Graça para levar comida confecionada na instituição para um amigo com uma deficiência motora. Um dia, uma assistente social perguntou-lhe por que não levava também comida para ele próprio. Foi há cinco anos.

É também o caso de Marta Figueiredo, jovem de 26 anos que vive na Quinta do Ferro e que trabalhava nas limpezas de um restaurante nas Caldas da Rainha. Quando ficou desempregada, logo no começo da pandemia, decidiu rumar a Lisboa, onde vive o pai. Foi através da vizinha, Rosa Madalena da Silva, que soube do apoio d’A Voz do Operário. “Como gosto de ser ajudada, também gosto de ajudar”, diz Rosa enquanto explica que informou a instituição que conhecia uma pessoa que “perdeu o emprego por causa da covid e que passa fome”. Agora, as duas moradoras da Quinta do Ferro percorrem diariamente, juntas, a distância que separa o bairro d’A Voz do Operário.

A realidade de quem recorre à solidariedade da instituição difere de pessoa para pessoa mas, em geral, todas refletem grandes dificuldades económico-sociais.

Alberto Batista, de 52 anos, a viver em São Vicente, perto da Feira da Ladra, já recorria à Voz do Operário quando a mãe era viva. Hoje, come sozinho mas não hesita em agradecer a solidariedade da instituição.

“Às vezes, são 30 utentes, mas já foram mais”, explica Graça Nunes, a cozinheira d’A Voz do Operário, que entende que o Refeitório Social é um serviço importante. De facto, o número já foi bem superior mas diminuiu devido à sucessiva redução de vagas imposta pela Segurança Social. Há quase dois anos e meio à frente da cozinha, confecionar comida para os outros é fazer aquilo que gosta.

Também Ana Isabel Ribeiro, encarregada do refeitório, de 61 anos, considera que é importante a instituição estar presente quando há quem mais precisa. Depois de trabalhar no campo, quando era criança, começou a servir em casa de famílias aos 14 anos, e foi já aos 18 que decidiu procurar uma vida melhor na indústria hoteleira. Trabalha no setor há 43 anos e está n’A Voz há já 15 anos.

Afirma que a relação é boa com quem recorre à Voz e que acaba por se conhecer os hábitos ou particularidades de cada um. “Há uma senhora que não come laranja e já sabemos que não vale a pena dar-lhe esta peça de fruta. Há outra que é diabética e tentamos arranjar uma maneira de que esta pessoa possa comer”, exemplifica.

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