A história da maior central sindical portuguesa é a trajetória de milhões de trabalhadores anónimos que nada mais têm para vender do que o seu trabalho em troca de um salário e que lutam por uma vida melhor. Se jornais, rádios e televisões têm apostado em disseminar preconceitos sobre o papel dos sindicatos, há quem não tenha dúvidas de que é na luta que se conquistam direitos.

É o caso de Josué Bastos, de 34 anos, operário na Fima Olá, onde já tinha trabalhado o seu avô. Mas este operário da indústria alimentar não herdou apenas o ofício. A histórica presença do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente (SITE) nesta empresa transporta consigo uma memória de lutas que não pode ser desligada de direitos de que hoje Josué Bastos usufrui. À Voz do Operário, este delegado e dirigente sindical explica que começou a trabalhar ali há 10 anos, com 24 anos e que se sindicalizou um ano depois.

O sindicato está muito bem estruturado dentro da Fima Olá e foi precisamente com essa presença robusta que o SITE Sul protagonizou uma luta contra a direção da empresa quando esta decidiu impedir a realização de plenários sindicais. “Houve uma mudança e não nos queriam deixar reunir. Arranjavam atritos para mostrar que o sindicato não era bem-vindo. Isto durou dois anos”, recorda.

Josué Bastos na comemoração do 1º de Maio, este ano, em Lisboa.

Foi através da luta que forçaram a direção a aceitar a organização dos trabalhadores dentro da empresa. Agora, os representantes do sindicato tratam de reforçar a intervenção sindical e a participação dos operários. Para Josué Bastos, o sindicalismo não é algo do passado. “Muitas pessoas desconhecem as organizações sindicais mas são muito importantes para garantir os nossos direitos. O mercado nunca vai estar favorável aos trabalhadores”, sublinha enquanto destaca a luta pela contratação coletiva e pelas horas extraordinárias.

Mas neste combate histórico cabem também trabalhadores que imigraram em busca de uma vida melhor. Milena Barbosa é um desses exemplos. Com 28 anos, esta jovem partiu do Brasil há quatro anos abandonando uma vida em que apesar de trabalhar 15 horas por dia não chegava para pagar uma casa e as contas. Agora trabalha na Accenture, empresa multinacional de consultoria de gestão, tecnologia da informação e outsourcing.

No primeiro ano e meio, acreditou nas chefias e trabalhou o máximo que pôde para subir na carreira. Rapidamente percebeu que não era assim. “Essa ideia que muitos patrões pregam de que se trabalhar muito sobe na carreira foi uma coisa que eu comprei durante um tempo. Eu sinto que se abdicasse de todos os meus princípios e valores, e estivesse disposta a ajoelhar e fazer tudo o que eles quisessem, quem sabe… mas eu não estou disposta a fazer isso e acho também que esse não é o caminho”, explica a delegada sindical à Voz do Operário.

Milena Barbosa, delegada sindical da Accenture.

Acabou por ficar em baixa médica psiquiátrica e foi então que decidiu conversar com alguns membros do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP). “Eu já conhecia algumas pessoas envolvidas com a CGTP e sempre foram pessoas que me encorajaram a buscar o sindicato. Foi a melhor coisa que fiz. Quando eu encontrei o CESP e pude falar de toda esta situação na empresa tive todo o apoio necessário”, recorda.

Agora é delegada sindical e representa muitos jovens e também imigrantes que trabalham na Accenture. Uma das principais lutas em que estão envolvidos visa conseguir que a empresa aceite reuniões dentro de portas. “A empresa nunca permitiu que nós entrássemos para termos uma reunião sindical e no ano passado fizemos uma ação à porta da empresa. Foi uma oportunidade de mostrar que o sindicato está disposto a dar a cara”.

Milena Barbosa considera que os sindicatos são organizações para que “os trabalhadores se organizem para lutarem pelos seus direitos, para que se sintam apoiados”. Explica que sempre sentiu que lutava sozinha contra os seus chefes e que podia acabar despedida. “O sindicato vem para mostrar o contrário. Historicamente o que a gente vê são os trabalhadores conseguindo reivindicar e usufruir de todos os seus direitos pela união e pela luta. Eu acho que não dá para fazer nada disso sozinho e para mim é isso que a CGTP-IN e os sindicatos representam: a luta”.

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