Trabalho

Almada

Sindicato acusa autarquia de virar costas aos trabalhadores

No mesmo dia em que estalou a polémica das declarações de Inês de Medeiros, presidente da Câmara Municipal de Almada, os trabalhadores da autarquia empreenderam mais um protesto contra as políticas do executivo local. A autarca que havia prometido, se ganhasse as eleições, passar a deslocar-se de cacilheiro no seu trajeto diário de Lisboa para a Margem Sul negou-se, de acordo com Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), durante a semana anterior, a responder ao pedido de audiência.

Se muitos olharam com espanto para as afirmações de Inês de Medeiros de que os habitantes do bairro Picapau Amarelo são privilegiados por terem uma bonita vista sobre o Tejo, escamoteando o facto de ser uma das zonas mais pobres do concelho, não foram poucos os trabalhadores que olharam com repúdio para a autarca que tentou pessoalmente interromper um plenário que não quis autorizar.

Segundo o STAL, a câmara pretende iniciar um processo de desmantelamento do serviço de saúde ocupacional, retirando as especialidades conquistadas pelos trabalhadores remetendo-os exclusivamente para a medicina do trabalho. Para além disso, o executivo camarário quer reduzir o pagamento aos fornecedores dos refeitórios, transferindo os custos para os trabalhadores, e acabando com a sopa gratuita, que em alguns casos significará menos uma refeição por dia.

Entre as reivindicações, os trabalhadores contestam a proposta da autarquia de retirar aos seus filhos a creche e jardim de infância por eles construída, passando a incluir este equipamento na rede nacional das IPSS’s.

“Num período de crise, que se avizinha difícil, para os trabalhadores e suas famílias, o executivo da Câmara decide encetar este processo, que em qualquer cenário de alteração significará a transferência das despesas do orçamento da Câmara Municipal para o bolso dos trabalhadores, agravando o rendimento das famílias”, afirma o STAL.

Sem espaço para uma reunião de 1700 funcionários, a autarquia ainda propôs uma instalação que dava apenas para 200, mas não era suficiente e o STAL sugeriu que o plenário se realizasse na rua como já tinha sido autorizado pela Câmara Municipal noutras ocasiões, explicou à Voz do Operário Pedro Rebelo, dirigente sindical.

Mas desta vez a reunião não foi autorizada e os trabalhadores decidiram avançar na mesma para o plenário com desfile rumo à Câmara Municipal. Da Praça da Portela até ao Chalé no Jardim da Cova da Piedade, os trabalhadores denunciaram o executivo e a tentativa de retirada de direitos.

Um vídeo que circulou nas redes sociais confirma a versão do dirigente sindical. Quando os manifestantes se encontravam junto à Câmara Municipal, “a presidente tentou interferir com o plenário”. Nas imagens vê-se Inês de Medeiros oferecer a audiência cujo pedido se negou a responder durante uma semana. “Com a manifestação tudo isso foi possível”, afirmou Pedro Rebelo atribuindo ao êxito do protesto a reunião com a autarquia.

Contudo, o encontro dos representantes sindicais com os autarcas não correu bem. “Reiteraram a mesma posição e não se mostraram disponíveis para negociar. Portanto, levantámo-nos e abandonámos o espaço”, descreve o sindicalista. Neste momento, o STAL exige à câmara toda a documentação que sustenta a decisão de retirar valências aos trabalhadores. “Fizeram isto nas nossas costas. Não estávamos ali para estar numa espécie de improviso. Estamos disponíveis para soluções que melhorem mas não estamos disponíveis para permitir que transferiram o custo destas valências para os trabalhadores”.

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