Em 2023, foi comunicado um aumento de renda em mais de 600%, passando de 542€ para cerca de 3800€, e a intenção de colocar o imóvel à venda. Neste momento, a AAM, uma associação cultural sem fins lucrativos, galardoada pelo governo português com a Ordem de Instrução Pública e com a medalha de Mérito Cultural, em 1984, reconhecida pela Câmara Municipal de Lisboa como Entidade de Interesse Histórico e Cultural, em 2018, está à procura de uma solução viável e comportável para a reinstalação da escola, espaço esse que necessitará de condições de insonorização e de área suficiente para receber todos os equipamentos, material técnico e instrumentos, assim como mais de 300 alunos e cerca de 40 professores, caso contrário não terá condições para continuar a sua actividade, uma vez que o orçamento anual da AAM serve somente para cobrir as despesas.
A Direcção Administrativa e Pedagógica já reuniu com a Câmara Municipal de Lisboa, com Ministério da Cultura, com uma Comissão da Cultura na Assembleia da República, com a Santa Casa da Misericórdia, com a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, para tentarem encontrar um local alternativo no centro de Lisboa, ou outras soluções. Mas estas reuniões têm-se mostrado infrutíferas, pois, apesar da receptividade geral e aparente interesse pela resolução da situação, a verdade é que vêem uma total inoperância e falta de soluções das várias entidades contactadas, lamenta a professora Maria João Abreu, membro da Direcção Administrativa, com quem conversámos no início deste ano. Para esta professora, antiga aluna da AAM, professora desde os anos 90 e actual membro de uma direcção cujos membros trabalham pro bono, é lamentável que uma instituição com reconhecida importância histórica e cultural, de serviço público e educativo, que consegue ter no activo um Ensemble de Sopros, 3 Coros (de Câmara, dos Pequenos Cantores e Lopes-Graça), Estúdio de Ópera e uma Orquestra de Câmara, esteja numa situação de possível fecho de portas por não ter um local para se instalar. Numa cidade que está a ser absorvida por Hotéis, apartamentos de luxo e comprada por grandes investidores estrangeiros, Maria João Abreu recorda, com grande tristeza, o projecto que estava a ser desenvolvido no executivo de João Soares, na CML, integrado no Plano de Recuperação do Chiado, que previa a mudança de sede da AAM para o edifício Palmeiras na rua do Crucifixo. O projecto arquitectónico, desenvolvido em conjunto com o Arquitecto Álvaro Siza Vieira, estava concluído, assim como o projecto acústico e o licenciamento da DGEstE. Segundo a professora, apenas faltava abrir o concurso público para iniciar as obras, mas entretanto vieram eleições e o projecto foi arrumado na gaveta, pelo executivo de Pedro Santana Lopes.
Maria João Abreu salienta que a AAM está numa fase de grande actividade e comprometimento educativo e cultural, com financiamento do Ministério da Educação para cerca de 300 alunos em ensino articulado de música, bem como da DGArtes, o que tem permitido manter a actividade artística fora de portas, cobrir gastos com deslocações e transporte de instrumentos e material, receber e programar Masterclasses ou Workshops com professores e músicos externos à instituição. Um dos grandes investimentos recentes foi a compra de material necessário para equipar o Auditório e poder transformá-lo numa verdadeira sala de espectáculos, com o objectivo de conseguir licenciamento para poder ser mais uma fonte de receita. Esta é, também, uma das razões para não equacionarem a hipótese de sair do centro de Lisboa, ou numa área da cidade que esteja bem servida de transportes públicos, pois outra das mais valias desta centralidade é poderem manter os protocolos com as escolas públicas que permitem que os alunos em regime articulado consigam circular em conjunto e facilmente entre uma escola e outra, promovendo a autonomia e independência destes jovens, assim como a confiança dos encarregados de educação. A professora reforça que os orçamentos anuais são à justa para pagar todas as despesas, inclusivamente qualquer intervenção a nível das instalações, pois “o senhorio nunca entrou com dinheiro algum, nem para resolver infiltrações de água”, razão pela qual não têm condições financeiras para adquirir qualquer imóvel, ou possibilidade de cumprir com uma renda que sofre um aumento de 7 vezes mais de um ano para o outro, “nenhuma família conseguiria suportar um aumento destes”.
Na história da AAM é de salientar o papel fundamental do compositor e pedagogo Padre Tomás Borba, que assumiu a Direcção e renovou o ensino da música na década de 20. Em 1941 acolheu Fernando Lopes-Graça como professor, e assumindo posteriormente o cargo de Director Pedagógico e Artístico até à data da sua morte, em 1994. Lopes-Graça tornou-se uma figura fundamental da História da Música e da Composição em Portugal, da luta por um ensino de qualidade e por uma sociedade mais justa e democrática, contribuindo para que, nos anos 80, a AAM obtivesse o Paralelismo Pedagógico para ministrar cursos a nível oficial e, nos anos 90, se tornasse na primeira escola de música do Ensino Particular e Cooperativo a obter Autonomia Pedagógica.