Chega o verão e o calor. Depois de dois meses e meio, chegam as crianças às creches e pré-escolar dos espaços educativos d’A Voz do Operário. Eram muitas as saudades de uma aprendizagem que até hoje sempre se fez a partir da interação e que esteve confinada às webcams nos últimos tempos. Com todos os cuidados, alunos, pais, educadores e auxiliares tratam de devolver uma parte da normalidade a este processo.

Passo a passo, entre o medo e a esperança, a humanidade trata de superar a pandemia como pode servindo os trabalhadores, como quase sempre, de carne para canhão. Os grupos económicos e financeiros exigem a reabertura da economia e estalam as contradições. Transportes públicos a abarrotar, locais de trabalho sem segurança mas é aos protestos de quem trabalha que se apontam dedos. Querem-nos desconfinados mas calados. No desemprego ou com cortes nos salários mas calados. A olhar para a distribuição de dividendos na Galp e na EDP mas calados. A ver o nosso dinheiro financiar o buraco do Novo Banco mas calados. Sempre calados.

Enquanto assiste a um espetáculo com milhares de espetadores na plateia, o Presidente da República não sente qualquer pudor em criticar as comemorações do 1.o de Maio. Como sempre, quem critica os protestos fecha os olhos às razões que levam as pessoas a protestar. Perante a passividade do governo, inclinado desde o primeiro momento para se posicionar na defesa dos interesses das grandes empresas e dos bancos, os trabalhadores e as populações não têm outra opção senão transformar o medo em coragem e o presente em luta. Os protestos não são atos de irresponsabilidade. São a afirmação categórica de que não vamos deixar que falte comida aos nossos filhos sem romper o silêncio.

Que o digam os norte-americanos que, apesar da gestão absolutamente criminosa da pandemia por parte do governo, encheram as ruas de todo o país num mar de revolta contra o assassinato de George Floyd às mãos da polícia. A enésima morte de um negro com motivação racial mostra como estruturalmente o sistema capitalista precisa do racismo para aprofundar a exploração e a divisão dos trabalhadores.

Artigos Relacionados