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Em tempo de pandemia a luta não fica de quarentena

Atravessamos tempos de grande complexidade e incerteza provocados pela pandemia da Covid-19, mas isso não nos impediu de celebrar o 46º aniversário do 25 de Abril bem como o 1º de Maio.

No dia 25 de Abril abrimos as janelas e cantámos a Grândola Vila Morena e o Hino Nacional, dando sentido à liberdade conquistada e aos valores de Abril, com a profunda convicção de que ao medo e à resignação se hão de sobrepor a esperança no futuro e a luta por um País e uma vida melhores.

Comemorar o 25 de Abril é também lembrar que a revolução dos cravos derrubou a ditadura fascista, restituiu ao Povo Português a Democracia e a Liberdade e apontou os caminhos do progresso e do desenvolvimento e evocar aqueles que o sonharam e concretizaram, mesmo com o sacrifício da própria vida.

A defesa dos valores de Abril está mais do que nunca na ordem do dia, num momento em que com os mais variados pretextos, os inimigos da revolução contestam a sua celebração e tentam de forma cada vez mais despudorada, reverter as conquistas e direitos alcançados pelo povo português, que com a sua luta ainda hoje persistem.

Comemoramos também a consagração do 1º de Maio como Dia Internacional do Trabalhador, inclusivamente marcando presença nas ruas, com as necessárias medidas de proteção e distanciamento sanitário, fazendo ouvir a voz dos trabalhadores, designadamente a denúncia do desemprego, dos cortes de salários e a incerteza do próximo futuro, bem como a exigência de medidas para reduzir e minimizar o impacto da Covid-19 na saúde e na vida dos portugueses, colocando como primeira prioridade o reforço do Serviço Nacional de Saúde.

A campanha em curso promovida por aqueles que ainda não desistiram de acertar contas com o 25 de Abril, estende-se naturalmente ao 1o de Maio na tentativa de impedir que os trabalhadores possam expressar a sua indignação face à situação que estão a viver, de ataque ao emprego, aos salários, aos direitos consagrados na lei e na contratação coletiva.

Os direitos e os valores de Abril não estão de quarentena. Quando alguns, hoje com novas roupagens, querem branquear o fascismo e a sua existência, os negros anos da ditadura, e o passado de exploração e opressão, devemos reafirmar e comemorar Abril, os valores democráticos e a liberdade. O direito ao Trabalho, à Habitação, à Saúde, à Segurança Social, à Cultura. A instituição do Poder Local Democrático, o fim da guerra colonial e a independência das ex-colónias.

O Serviço Nacional de Saúde constitui uma importante conquista de Abril, proclamando a Constituição da República Portuguesa que «todos têm direito à proteção na saúde e o dever de a de- fender e promover» sendo esse direito realizado «através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendencialmente gratuito».

A situação de pandemia que hoje vivemos já permitiu concluir quão importante é o SNS no combate ao surto epidemiológico e quão importante é o reforço da sua capacidade de resposta, com mais investimento, mais profissionais de saúde e mais equipamentos. Se não existisse o SNS, o Estado não dispunha de um instrumento fundamental para tratar os doentes. Se a saúde estivesse integralmente nas mãos dos grupos privados, como aliás alguns desejam (agora andam calados quanto a esse seu desiderato), o Estado estaria totalmente refém dos seus interesses e como vemos nalguns países, só teria acesso aos cuidados de saúde quem tivesse condições económicas, ficando os mais desprotegidos entregues à sua sorte.

Comemorar Abril é também defen- der o carácter público, geral, universal e gratuito do Serviço Nacional de Saúde, garante do acesso de todos aos cuidados de saúde sem quaisquer discriminações.

Importa nesta altura uma palavra de grande apreço aos profissionais de saúde, médicos, enfermeiros e outros operacionais, assim como aos bombeiros e demais agentes de proteção civil, a todos os que em condições muito difíceis, confrontados muitas vezes com carência de meios e arriscando a sua saúde, travam um muito importante combate para salvar vidas.

Apreço extensivo aos outros trabalhadores, que tal como na Voz do Operário, com o seu trabalho não deixam o País parar, assegurando serviços essenciais, designadamente o apoio social, o transporte e fornecimento de mercadorias e a recolha de resíduos.

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