Durante a última década, houve quem não se importasse de alimentar de novo o ovo da serpente e que agora se finja surpreendido com uma Europa semeada de formações políticas de extrema-direita. Portugal não é exceção. A mais profunda das revoluções no Ocidente Europeu desde a Comuna Paris derrotou o fascismo mas sofreu um duro golpe a 25 de novembro de 1975. Não admira pois que a entrada da extrema-direita, conservadora e liberal, na Assembleia da República, através do Chega e da Iniciativa Liberal, em conjunto com o PS, o PSD e o CDS-PP, use a data como bandeira.

A serpente que agora desperta e abre armários onde tanta gente esteve escondida durante anos vive da mentira e do palco que jornais, rádios e televisões lhe dão. Não deixa de ser extraordinário que num país em que boa parte da comunicação social se dedica a silenciar ou a deturpar o papel do movimento sindical, se dê cada vez mais espaço a ações e estruturas ideologicamente alheadas daquilo que tem sido a prática de compromisso da CGTP com um projeto de progresso e justiça social.

É bem possível que a maioria dos eleitores que deram o voto a André Ventura não saiba quais as suas propostas eleitorais para além dos soundbites televisivos. O homem que diz estar contra as elites defendeu a entrega precisamente a estas elites dos hospitais e centros de saúde, de escolas e universidades e de transportes como o metro, a Carris e a CP. Ou seja, que a nossa saúde dependa da nossa conta bancária, que haja filhos de primeira e filhos de segunda nas escolas,
e que os lucros do que hoje é público acabe nas mãos de algum grupo
económico e financeiro.

Há muitas razões para que o descontentamento se expresse nas ruas e nos locais de trabalho. Os diferentes protestos que se têm vindo a desenrolar no país mostram que há um povo não vive de migalhas e que quer aquilo que devia ser seu por direito. O ano que acaba agora é também o fim de uma década que vai ficar marcada na história pelo sacrifício a que fomos sujeitos para pagar as dívidas dos grandes grupos económicos e financeiros. Mas também pela mobilização dos trabalhadores e da população contra as políticas de direita e a troika. O nosso passado longínquo e recente, assim como os protestos em muitos países do mundo, mostram que a luta é o único caminho.

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