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3.ª Gala de Fado d’A Voz do Operário

No próximo dia 10 de novembro realizamos no nosso Salão de Festas a 3.ª Gala de Fado d’A Voz do Operário. Como se pode comprovar na revista “O Fado n’A Voz” que publicámos em 2017, desde a sua constituição que A Voz do Operário mantém uma grande ligação ao Fado. Inúmeras foram as personalidades do mundo do Fado que ajudaram a manter viva esta atividade, através de sessões de Fado realizadas ou apoiadas pel’A Voz do Operário. Ao mesmo tempo, o jornal A Voz do Operário tem sido um espaço sempre aberto para muitos autores lá registarem os seus poemas, defendendo o Fado enquanto expressão cultural das classes trabalhadoras. Nos primeiros tempos, em que o Fado se constituiu como expressão dos bairros operários, Avelino de Sousa, tipógrafo e redator no jornal A Voz do Operário, foi um dos primeiros fadistas militantes, publicando vários artigos da sua autoria, em defesa do Fado e do seu alinhamento com a causa operária. Também outras destacadas figuras como Carlos Harrington, João Black, Martinho d’Assunção (pai), Linhares Barbosa e António Rosa escreveram com regularidade no Jornal, com a mesma visão do Fado enquanto da canção popular. Dos muitos fados que Avelino de Sousa escreveu no nosso Jornal, é bem exemplificativo o seguinte, de que transcrevo os primeiros versos: “Vive pobre o pobre op’rário | Que trabalha noite e dia… | Vive rico o usuário | No seio da Burguesia! | Eis o contraste fatal, | do nascer a subtileza: | D’um lado o berço–Pobreza | D’outro o berço–Capital…”

A instauração da ditadura fascista trouxe muitas dificuldades ao Fado, particularmente ao Fado de intervenção. Mesmo assim a Voz do Operário continuou a acolher no seu seio muitos fadistas, incluindo os poetas militantes. Em 1934, realizou-se um grande espetáculo no nosso Salão de Festas, inaugurado pouco tempo antes, em que o Fado esteve presente com grandes nomes à época, entre os quais Berta Cardoso.

Em 1936, a Voz do Operário foi palco de uma homenagem ao poeta Luíz da Silva Gouveia, em que participaram atores e fadistas como Beatriz Costa, Berta Cardoso e Alfredo Marceneiro. De entre as muitas dezenas de fadistas que nas décadas de 30 a 60 passaram pel’A Voz do Operário, saliento para além dos citados Berta Cardoso e Alfredo Marceneiro, os nomes de Lucília do Carmo, Fernando Farinha, Carlos Ramos, Tristão da Silva, Hermínia Silva, Anita Guerreiro, Argentina Santos, Celeste Rodrigues, Esmeralda Amoedo, Fernando Maurício, Tony de Matos e Maria Amélia Proença. Depois do 25 de Abril foram muitos os espetáculos de Fado realizados n’A Voz do Operário, com fadistas desde amadores aos mais conceituados. Carlos do Carmo e Paulo de Carvalho, ambos sócios honorários d’A Voz do Operário proporcionaram-nos dois espetáculos memoráveis, a propósito da comemoração de aniversários da Instituição.

A Voz do Operário esteve envolvida noutro momento marcante da história do Fado, uma vez que o seu espólio constituiu um importante contributo para a candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade. Em 2011 a Marcha Infantil da Voz do Operário comemorou esta distinção atribuída ao Fado, apresentando como tema do seu desfile “As crianças de Lisboa homenageiam o Fado”. A relação indissociável d’A Voz do Operário ao Fado fica desde 2017 celebrada com a realização anual da Gala de Fado d’A Voz do Operário, numa iniciativa conjunta entre a Voz do Operário e a Música Unida, que visa promover este género musical como forma de expressão cultural popular, onde são atribuídos prémios – uma estatueta estilizada, simbolizando o Fado – como forma de reconhecimento a personalidades ou instituições ligadas direta ou indiretamente ao Fado, e que são publicamente consideradas e reconhecidas pelo seu mérito, inovação, estilo e importante contributo para o Fado e, também, ao longo do seu percurso artístico, para com A Voz do Operário.

A 3.ª Gala de Fado d’A Voz do Operário realiza-se no próximo dia 10 de novembro, pelas 15h, no nosso Salão de Festas, contando mais uma vez com um elenco de luxo onde iremos premiar artistas de reconhecido valor, com uma íntima ligação ao Fado e à Voz do Operário. Saliente-se que este é também um espetáculo solidário, em que os artistas participam de forma voluntária, destinando-se as verbas angariadas à renovação do Salão de Festas.

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