É na Serra de Albarracim, em Espanha, que ele nasce, e a partir daí percorre 1007 Km até ao estuário, onde as suas águas doces abraçam as águas salgadas do mar e banham Lisboa numa luz especial! Ao longo deste percurso, o maior dos rios da Península Ibérica, o Tejo, vai deixando um vasto património natural e cultural, com um potencial turístico enorme que, se bem aproveitado daria um contributo importante para o desenvolvimento, por este rio acima.

Antes de se diluir definitivamente no mar, o Tejo deixa um estuário de uma enorme beleza e riqueza natural, de um valor ecológico inestimável, classificada como Reserva Natural. As funções ecológicas, desta área, assumem um lugar de maior importância na preservação da biodiversidade do nosso território, mas também a nível do Planeta, daí a sua inclusão na Rede Natura 2000 e nas áreas abrangidas pela Convenção de RAMSAR (Zonas Húmidas do Planeta).

A vivência do homem com o Tejo tem séculos. Nele encontraram sobrevivência alimentar (não só com a pesca, mas também com a agricultura que permitiu desenvolver), condições para sua defesa, mobilidade fluvial para pessoas e bens, lazer, inspiração artística e uma porta aberta para o Mundo!

Rio de características mediterrânicas, apresentou sempre irregularidade nos seus caudais, alterando naturalmente entre cheias e caudais diminutos, em função dos períodos de chuvas ou de estio. No entanto, a partir dos meados do Século XX, com a construção de barragens no Tejo e nos seus afluentes principais, dos dois lados da fronteira, a produção energética passou a ditar a gestão destes rios, em detrimento de todo e qualquer outro usoe das exigências do equilíbrio ecológico. Foi a preocupação pela produção de energia que esteve na origem do Convénio assinado, em 1968, entre Espanha e Portugal, para regulação do uso das águas de 5 rios internacionais, entre eles, o Tejo. Revisto em 1998, o texto do acordo continuou muito longe de corrigir esta situação, e de colocar o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável, como principais objetivos, nomeadamente para o Tejo. Hoje, é um imperativo para Portugal, renegociar este acordo conhecido como “Convenção de Albufeira”! A situação de redução e escassez de caudal agravou-se dramaticamente nos últimos anos, em consequência dos transvases praticados em Espanha e também dos períodos de secas decorrentes das alterações climáticas. Rever os termos da gestão das águas do Tejo por forma a garantir caudais que assegurem o equilíbrio ecológico dos ecossistemas do rio e a qualidade das águas na entrada em Portugal, é fundamental! É ainda fundamental, que o Governo Português assuma uma postura firme, relativamente ao encerramento urgente da Central Nuclear de Almaraz que representa uma ameaça real, para o Tejo e para as populações ribeirinhas.

Para além da questão dos caudais, o Tejo tem outros problemas que impossibilitam o seu pleno aproveitamento numa perspetiva económica, social e de lazer. A poluição é um deles. Os setores industrial e agroalimentar, são hoje, os principais poluidores. Violam descaradamente as leis e fogem à implementação de sistemas de tratamento eficientes e adaptados à produção que têm. Exemplos não faltam, ainda temos em memória o caso da indústria de celulose de Castelo Branco. O assoreamento versus extração de areias ou calhau, é outro dos problemas ambientais do Tejo. Um assoreamento que não se deve só à falta de caudal para transportar as areias até à costa, mas também à contínua erosão das margens desprotegidas pelos incêndios e por práticas agrícolas incorretas que destruíram as margens. Por outro lado, a prática de extração por sucção, anos a fio no mesmo local e perto de infraestruturas hidráulicas, é também um problema grave e perigoso, tal como se viu em Entre-os-Rios. Por último, o desmantelamento e esvaziamento das entidades públicas com responsabilidade de fiscalização ambiental, tem contribuído para que estas situações se repitam e se agravem, comprometendo a natureza, a saúde pública e o contributo ao desenvolvimento sustentável que o Tejo poderia dar às regiões que atravessa. A atuação dos sucessivos Governos, sejam eles PSD/CDS ou PS, pautou-se pela falta de vontade política de fazer frente aos problemas, por vezes até mostrando condescendência com os criminosos, outras vezes, são os próprios governos que estão na origem do problema! Veja-se agora, as implicações para a Reserva Natural do Estuário do Tejo e para as Salinas do Samouco que terá a construção do aeroporto no Montijo!

Estou convencida que não chegará apelar às “Tágides” ao socorro para incutir nos governantes a sensibilidade de Camões pelo Tejo. Teremos de ser todos nós a agir pelo Tejo!

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