A história da relação do Reino Unido com a União Europeia (UE) é um percurso conturbado. Líderes conservadores como Margaret Thatcher e David Cameron usaram, no passado, a retórica eurocética. Não tanto porque estivessem contra o projeto iniciado em 1952 com a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. O perigo de um pólo económico que desse mais força à Europa continental, sobretudo à Alemanha, deixou sempre o Reino Unido de pé atrás. Os interesses contraditórios entre as diferentes potências económicas da UE aprofundaram a distância. Não é por acaso que Londres decidiu não fazer parte da moeda única. O receio de perder soberania monetária e a rejeição pública ao euro afastaram Tony Blair da decisão.

É assim que se percebe o desejo de ruptura, à direita, com a UE. Se, em 1993, o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP, na sigla em inglês) era uma pequena formação política sem peso, em 2004, alcançou o terceiro lugar nas eleições ao parlamento europeu. Nas eleições seguintes, passou para segundo e primeiro lugar consecutivamente. A saída da UE, sobretudo, perante a crise económica que, entretanto, irrompeu, passou a estar no debate político e continua a encabeçar sondagens.

Em 2013, o então primeiro-ministro conservador, David Cameron, que no ano anterior tinha rejeitado a ideia de referendar a saída UE, anunciou que convocaria uma consulta se fosse eleito em 2015. Conseguiu ser eleito novamente e anunciou o referendo para 23 de junho de 2016 mas afirmou que se demitiria se ganhasse o Brexit, o que acabou por acontecer. Durante a consulta, 51,8% dos votantes escolhem sair da UE contra 48,2% que optaram pela permanência. Na Escócia, onde cresce o independentismo, e na Irlanda do Norte, região que assistiu durante décadas à luta dos republicanos pela integração na República da Irlanda, ganhou a permanência.

Em outubro de 2016, a nova primeira-ministra, Theresa May, entregou uma carta ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, invocando o artigo 50 com o objetivo de conduzir a saída do Reino Unido a 29 de março de 2019. No ano seguinte, em junho, Theresa May foi eleita sem ter a maioria no parlamento. O Partido Conservador foi, então, obrigado a governar com o apoio do Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte. Contudo, em março deste ano, apesar de ter sido anunciado um acordo entre o Reino Unido e a UE para a saída, em novembro de 2018, o parlamento chumbou duas vezes o entendimento e Theresa May acabou por se demitir no fim de maio abrindo caminho à substituição por Boris Johnson.

Futuro incerto

Se o processo de saída da UE estava agendado para começar a 31 deste mês e acabar a 31 de dezembro de 2020, com o parlamento britânico em ebulição é ainda incerto como se vai dar o Brexit. Seguramente nada será como dantes com o Supremo Tribunal a considerar ilegal a decisão do primeiro-ministro de suspender a câmara dos deputados. Já antes da suspensão, foi promulgada uma lei por iniciativa da oposição e de um grupo de deputados conservadores que determina que o governo tem de pedir um adiamento da saída da UE se até 19 de outubro não conseguir aprovar um entendimento com Bruxelas.

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