Pela paz, contra a guerra e o fascismo
A menos de quatro meses das eleições para o Parlamento Europeu, a banalização das ideias de extrema-direita nos órgãos de comunicação social ameaça trazer para o debate pressupostos que pareciam há muito enterrados. É grave que se dê mais tempo de antena aos obscuros personagens que resgatam o fascismo do que aos que mais o combateram durante meio século. No ano em que se comemoram 45 anos da revolução que esmagou a ditadura há quem procure cavalgar sobre o legítimo descontentamento da população escondendo que o fascismo que defendem afogou o nosso povo na miséria, analfabetismo, mortalidade infantil, perseguição política e campos de concentração.
É evidente que há setores da economia portuguesa que são viveiros de baixos salários e más condições de trabalho. Só na grande distribuição são mais de 100 mil e recebem pouco mais do que o salário mínimo no topo da carreira. Os que tratam de ajudar-nos diariamente a adquirir produtos básicos recebem miseravelmente enquanto as empresas acumulam lucros pornográficos. A sua luta por melhores condições de vida é uma luta que nos diz respeito a todos.
É também grave que tenha havido mais um caso de agressão policial contra os moradores negros do bairro Jamaica, no Seixal. É urgente que se investiguem as razões que levaram a este tipo de intervenção porque não pode sobrar a mais leve suspeita de que a ação da polícia tenha sido motivada por qualquer tipo de discriminação racial.
No meio da tormenta que se abate sobre a América Latina, cumpriram-se 60 anos do dia em que os barbudos liderados por Fidel Castro, junto do povo cubano, tomaram o poder e derrubaram o fascismo. Praticamente havia passado de ser colónia espanhola a colónia norte-americana. Os revolucionários cumpriram o sonho de José Martí e resgataram a independência e a soberania nacional conquistando sucessivamente avanços sociais atestados pela ONU. Apesar do bloqueio são hoje donos do seu próprio futuro.
É o mesmo bloqueio que querem levar à Venezuela para asfixiar um povo e impor-lhe um presidente não eleito que traz a bendição de Donald Trump. A questão vai muito para além de estarmos ou não alinhados com o governo de Nicolás Maduro. Para quem se lembra do Iraque, da Líbia e da Síria, a defesa de um golpe de Estado contra o homem que ganhou as últimas eleições presidenciais em disputa com outros candidatos da oposição deve repugnar todas as mulheres e homens que verdadeiramente defendem a democracia e o direito dos povos à não ingerência externa. A chantagem da União Europeia e o papel do governo português são absolutamente lamentáveis, abrem caminho à guerra e contrariam os princípios da Constituição da República Portuguesa.