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CGTP-IN anuncia manif para 8 de novembro e não descarta outras formas de luta

Milhares de trabalhadores encheram a Avenida da Liberdade para rejeitar o Pacote Laboral.

Graça Alves veio de Abrantes para participar na manifestação convocada pela CGTP-IN contra a reforma das leis do trabalho. Enquanto descia a Avenida da Liberdade, explicava à Voz do Operário que estava ali porque não aceita um Pacote Laboral que estão a querer “impingir” aos trabalhadores. Esta operária numa fábrica de produção de azeite considera “absurdo” haver uma proposta do governo que não tem medidas que favoreçam quem trabalha. “Não podemos olhar só para as empresas, os patrões já têm lá os lucros deles e são garantidos. Os trabalhadores nem por isso”, explica. “Isto é apenas para retirar direitos aos trabalhadores. O poder de compra vai sendo cada vez menor e as pessoas precisam de comer para viver”. Sobre a proposta de restringir a atividade sindical e o direito à greve, responde que “todos temos o direito de nos manifestarmos” e se “eles” podem ter a sua opinião, os trabalhadores também têm direito a manifestá-la.

Também neste protesto, André Janeco explicou que se está perante “um grande ataque aos direitos dos trabalhadores” e que, com esta proposta, a empresa norte-americana onde trabalha, a Synopsys, pode despedir mais facilmente “sem justificar o que quer que seja”. Com mais de 900 trabalhadores em Portugal divididos em três pólos, considerou que, apesar de nem sempre ser fácil, é fundamental a intervenção do Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas na empresa. A prova disso é a presença de vários trabalhadores da Synopsys na Avenida da Liberdade, defendeu, e a proposta de restrições à atividade sindical é para tentar dificultar a adesão aos sindicatos.

Depois de uma vida a trabalhar no setor do turismo, Alice também veio para a rua lutar contra o Pacote Laboral e explicou à Voz do Operário que “não podemos deixar de lutar por tudo aquilo que conquistámos”. Na sua perspetiva, a direita está a lutar pelos seus próprios interesses. “Nós temos de ir contra. Nós temos de defender a nossa classe. Os trabalhadores é que criam a riqueza e têm de se defender. Não podemos confiar no patrão. Sinto que isto vai prejudicar as futuras gerações de trabalhadores, os atuais trabalhadores”.

Também na manifestação, a dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, Isabel Barbosa, recordou que os trabalhadores estão a viver “um intenso ataque por parte deste governo que apresenta um pacote laboral que é uma autêntica bomba atómica contra os direitos”. De acordo com esta enfermeira, “a possibilidade dos despedimentos sem justa causa, o ataque à contratação coletiva, a possibilidade de alargar a precariedade e o ataque ao direito à greve” também vão afetar os trabalhadores da área da saúde e por isso é fundamental lutar. “Nós recebemos recentemente uma proposta de acordo coletivo de trabalho que é inaceitável e que vem na linha deste Pacote Laboral, que é uma proposta de banco de horas, de adaptabilidade e de uma desregulação total da vida dos enfermeiros, em que há a possibilidade dos enfermeiros fazerem, por exemplo, 60 horas numa semana”, denunciou. Isabel Barbosa recordou ainda que foi também com greves que se conseguiu mais contratação de trabalhadores para o Serviço Nacional de Saúde.

António Matias, reformado, explicou que não podia deixar de vir à manifestação também porque sente que se vai perdendo poder de compra nas reformas. Sobre o Pacote Laboral, entende que o despedimento vai ser facilitado e que a exploração dos trabalhadores vai aumentar. Nesse sentido, considera que vai haver menos tempo para a família e para o lazer.

CGTP-IN convoca marcha nacional

A CGTP-IN convocou para 8 de novembro uma marcha nacional, em Lisboa, contra o anteprojeto do governo de revisão da legislação laboral sem descartar nenhuma outra forma de luta, anunciou o secretário-geral da central sindical.

O objetivo é dar “uma mensagem clara ao governo” para que reverta “a sua posição relativamente ao Pacote Laboral”, afirmou o secretário-geral da CGTP-IN, Tiago Oliveira, em conferência de imprensa, em Lisboa, de acordo com a Lusa.

Esta iniciativa enquadra-se num conjunto de ações que a central sindical vai levar a cabo para intensificar as formas de luta contra o anteprojeto do governo, após a manifestação de sábado em Lisboa e no Porto. Entretanto, a Frente Comum de Sindicatos da Função Pública convocou uma greve para o dia 24 de outubro para exigir aumentos salariais.

Para “dar continuidade à luta” e fazer face ao “assalto [aos direitos dos trabalhadores] que está em curso”, a CGTP-IN decidiu ainda “avançar uma ação geral nas empresas e nas ruas contra o pacote laboral”, que inclui a realização de “plenários, de contactos, de greves e paralisações, de tribunas públicas e de ações de convergência” que permitam “discutir com os trabalhadores os seus problemas concretos”, detalhou o secretário-geral da CGTP-IN.

O conselho nacional da CGTP-IN, que esteve reunido esta quarta-feira, decidiu ainda avançar com um abaixo-assinado, através da recolha de assinaturas por “todo o país”, e que será entregue ao primeiro-ministro.

“Todas estas ações, com o envolvimento crescente dos trabalhadores, com a dinamização da unidade e da convergência de todos em torno das reivindicações comuns, a partir dos locais de trabalho, farão crescer uma ampla frente de luta, que dará o devido combate aos ataques em curso e que se desenvolverá com todas as formas de luta que a situação imponha, incluindo a realização de uma greve geral, a levar a cabo num futuro próximo”, acrescentou.

Questionado sobre as circunstâncias que poderão ditar o avanço para uma greve geral, Tiago Oliveira escusou-se a dar um timing concreto, referindo que tudo depende do “posicionamento do Governo”.

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