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O desporto popular está vivo: A Subida da Rampa do Vale de Santo António

O que vamos contar é uma história que fala de desporto, de bicicletas, de Lisboa, de um bairro e da sua comunidade, de uma coletividade quase nonagenária e de uma outra coletividade recém-fundada cheia de entusiasmo e valores vincados. Eis a grandiosa Subida da Rampa do Vale de Santo António!

As origens

Corria o ano 1941, o Mirantense FC, jovem e dinâmica agremiação nascida somente seis anos antes (1935), fundada pela juventude moradora da Rua do Mirante, Outeirinho e Beco do Mirante e das outras ruas a volta, já mostrava cartas em várias modalidades na cidade de Lisboa ( futebol e atletismo in primis). Mesmo não tendo uma secção de ciclismo particularmente numerosa e ativa, mas “abençoado” por ter a sede na Rua do Vale de Santo António, uma rua ingrime e inclinada, o clube organizou, com o patrocínio da imprensa desportiva e de toda sua comunidade ( moradores e comércio local), uma corrida em contra relógio de ciclismo que tornou-se uma das provas mais aclamadas e populares na cidade de Lisboa, durante as décadas 40-50.

A Subida da Rampa do Vale de Santo António era o orgulho do Mirantense, da sua gente dos seus moradores; realizou-se até 1954, quando a cidade começou a mudar, as ruas tornaram-se domínio dos carros e do “progresso”, e o desporto popular e as coletividades foram silenciadas, consideradas perigosos instrumentos de resistência ao poder autoritário da época. A cidade se transforma, passam décadas…

Ressurgimento

No verão de 2021, um grupo de entusiastas do movimento associativo, da sua história e dos seus valores, que pouco meses antes tinha fundado um seu próprio clube, um clube diferente (a ADRR-Associação Desportiva e Recreativa “o Relâmpago”), foi visitar a nova sede do Mirantense; poucos anos antes tinha sido expulso da sua antiga magnífica casa.

O grupo foi entregar um diploma de parabéns para o aniversário do Mirantense que coincide com o do Relâmpago, dia 1 de Maio, data não escolhida ao acaso pelos dois clubes. Esta foi a “desculpa” para embevecer-se com a história e mística associativa da agremiação mais velha. Ali, entre copos e conversas, os velhos sócios do Mirantense mostraram orgulhosos fotos e artigos sobre o que foi e o que representava a Subida da Rampa do Vale de Santo António.

“Mas porquê não re-editar,porquê não re-ativar? Vai ser uma grande festa de desporto popular! Nós ajudamos!” ansiavam eletrizados os relampaguistas. Devagarinho, os medos, as dúvidas, as resistências desapareceram.

A Subida da Rampa do Vale de Santo António 2021 (exatamente a 80 anos da primeira), aconteceu e …foi bonita a festa, pá! Dezenas de ciclistas trepadores, dezenas de voluntários comprometidos, centenas e centenas de pessoas a encher as ruas e as passadeiras da Subida, o comércio local completamente envolvido no evento, um sucesso estrondoso! Há pessoas que relatam que há muitos e muitos anos que não viam a rua assim, cheia de gente alegre e festiva. E a partir daí foi só um crescendo: em 2022 com mais de 100 atletas e as varandas da rua decoradas e enfeitadas, em 2023 um hino dedicado à prova que é a nossa banda sonora desde então e em 2024 prevê-se um êxito ainda mais grandioso.

O Mirantense, o seu bairro, a sua gente se reapropriou do que é deles, a rua, porque são eles o coração, a vida e a história desta comunidade. E o Relâmpago cumpriu orgulhoso mais uma vez o seu lema: pelo desporto popular!

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