As populações de Almada e do Seixal realizaram já várias ações de protesto contra o encerramento das urgências de pediatria no Hospital Garcia de Horta (HGO), o que levou a autarquia e o governo a garantirem que isso não ia acontecer. O facto é que Marta Temido, ministra da Saúde, acabou por assumir o “inevitável” e o serviço foi encerrado desde 18 de novembro. “A incapacidade gestionária da situação levou a que a alternativa passe por impor o prolongamento do funcionamento dos centros de saúde do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Almada-Seixal, à custa de trabalho extraordinário, durante a semana e aos fins-de-semana, por parte dos médicos de família, já sobrecarregados com os cuidados a uma população altamente carenciada”, denunciou o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS/FNAM) em nota à imprensa.
Esta solução que será “por tempo indeterminado e para dar resposta à época de contingência do frio e encerramento da urgência pediátrica do HGO durante o período nocturno”, não é solução para os médicos, uma vez que “não só mantém o encerramento das urgências pediátricas do HGO” como diminui o acesso da população aos cuidados de saúde primários, já por si tão deficitários nesta região, uma das mais carenciadas em termos de médicos de família.
A estrutura sindical acusou ainda o Ministério da Saúde de desenvolver uma gestão “autocrática” que, descurando os cuidados de saúde prestados à população, é o reflexo da “actual desorganização do nosso SNS”.
Marta Temido acabou por anunciar que a urgência pediátrica passaria a encerrar todas as noites, entre as 20h e as 8h, apontando como alternativa dois centros de saúde, que alargaram o seu horário. A unidade de saúde da Amora, no Seixal, e a Rainha Dona Leonor, em Almada, passaram a funcionar das 8h à meia noite, nos dias de semana, e das 10h às 22h, ao fim-de-semana.
Questionada sobre quais as alternativas à possibilidade de encerramento, a ministra respondeu: “Há mais hospitais da coroa de Lisboa que fecham às noites na área da pediatria. É o caso do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental que articula com o Centro Hospitalar de Lisboa Norte e com Centro Hospitalar de Lisboa Central. No fundo é um modelo semelhante ao das urgências metropolitanas do Norte do país”.
A falta de pediatras no Garcia de Orta já afeta o hospital há mais de um ano, quando saíram 13 profissionais e, segundo o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, nem o lançamento de concursos foi suficiente para colmatar a carência porque “ninguém concorreu”.
Atualmente, trabalham 28 médicos no serviço de pediatria, dos quais sete fazem urgência e apenas quatro podem fazer noites porque têm menos do que 55 anos.
Em 26 de outubro, o presidente do Hospital Garcia de Orta informou que a urgência pediátrica deve normalizar “daqui a seis meses”, depois do lançamento de um novo concurso e do preenchimento das três vagas por contratação direta, autorizadas pelo Ministério da Saúde.
O Hospital Garcia de Orta serve os concelhos de Almada e Seixal, no distrito de Setúbal.