Há cerca de um mês, a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) anunciou a intenção de aplicar uma taxa para atletas não federados que desejem participar em provas de atletismo, com uma opção diária de 3 ou 4 euros, dependendo se o atleta ou organização já tem seguro; ou uma licença anual de 31 euros. A resposta não se fez esperar.
Rui Aldeano é um dos 40 associados que compõem a secção de atletismo da Associação Desportiva e Recreativa “O Relâmpago” e é também um dos promotores de um manifesto que foi lançado contra a decisão da mais importante entidade do setor. De acordo com Rui Aldeano, o desporto popular, nomeadamente o atletismo, já tem “muitas condicionantes” e, por isso, considera, isto é “mais uma barreira”. Pela defesa dos “valores do desporto”, decidiram avançar com o documento que pretende mobilizar os atletas, contando já com alguns clubes e nomes de relevo do atletismo. Para além da Corrida da Liberdade, que se realizou no dia 25 de Abril, pretendem distribuir o manifesto e recolher assinaturas também na prova da CGTP-IN que se realiza no 1.º de Maio.
Segundo Rui Aldeano, a mobilização dos atletas em torno deste manifesto já provocou um contacto da Federação Portuguesa de Atletismo que afirma agora que as medidas ainda estão a ser estudadas, deixando em aberto alterações ao anúncio inicial.
Para os autores do documento “a valorização da corrida e a promoção da prática desportiva de matriz popular” devem ser “objectivos de fundo”. Nesse sentido, consideram que a intenção de regular “para além do aceitável” a prática da corrida ou a “limitação do acesso a provas de atletismo”, por via de imposição de licenças ou obrigações federativas, “contraria desde logo os desígnios da CRP e afectará milhares de atletas amadores, associações, clubes e equipas que diariamente se empenham para a valorização da corrida nas suas diversas modalidades e reforçam as fileiras do desporto popular”.
O manifesto sublinha ainda que o direito à cultura física e ao desporto, consagrado no Artigo 79.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), tem encontrado “desde sempre” no atletismo, e em especial na corrida, “fiéis impulsionadores”, e simultaneamente a “estrada”, para a materialização desse direito fundamental. Nesse sentido, destacam que a CRP define como atribuição do Estado português a responsabilidade pelo funcionamento das estruturas desportivas, considerando os autores do documento que não deve essa responsabilidade ser transferida para os atletas “numa óptica mercantilista do desporto com base no princípio do utilizador-pagador”.
Em contacto com atletas, clubes, associações desportivas e equipas, federados ou não federados, os autores do manifesto estão a recolher subscrições com o objetivo de contestar a decisão da Federação Portuguesa de Atletismo e de unir este desporto a uma só voz pela “liberdade de correr”.