Opinião

Sociedade

A parábola do presépio imperfeito

Aquele pai pousava um olhar abnegadamente terno e triste no berço do filho, uma pequena manjedoura forrada de palha. Ao lado, a mãe debruçava no berço toda a esperança de uma mãe desesperadamente impotente, como pronuncio de uma outra parábola, quando o fez descer da cruz para o enterrar.

O velho estábulo assente em quatro pilares de pinho, coberto de colmo era apenas uma imagem com mais de 2000 anos de viagem, daquela gruta escavada em Belém, a apenas 10 quilómetros de Jerusalém, naquele território hoje designado Cisjordânia, imagem que repetimos todos os anos na expectativa de que, quem com ela se cruza, seja contagiado pelo espírito de esperança, o mesmo que Mateus, o profeta das escrituras, revela no chamado Livro Sagrado.

Bom, na verdade, esta é hoje uma parábola imperfeita. O menino Jesus, o mesmo que Alberto Caeiro fizera descer por um raio de sol, e que regressara à Terra por ser demasiado nosso para fingir de segunda pessoa da Trindade, o mesmo que, segundo S. Mateus, fugira com os pais para o Egito, depois de avisados por um Anjo, desta vez não tinha para onde fugir.

Herodes encurralou-o no seu próprio berço, o rei da Judeia, saltou das páginas do Livro Sagrado para o matar, dizimando indiscriminadamente todas as crianças, já 13 mil, desta vez, com menos ou mais de dois anos para que não falhe no seu crime perante a indiferença dos cristãos, judeus, muçulmanos, hindus, ateus. Todos são Pilatos! Como, aliás, já acontecera nos anos 40 do século passado.

E é por isso que a este presépio imperfeito, lhe falta o Menino Jesus. Colocá-lo no berço seria demasiado perigoso para a sobrevivência do Natal que todos celebramos, crentes e não crentes, seria pactuar com os criminosos, normalizar o crime sionista, aceitar a hipocrisia dos que negam este genocídio como outrora mostraram indiferença perante o holocausto. Este cenário do presépio, pobre e imperfeito, pode ser enfeitado de ouro, incenso e mirra, mas não é o Natal, falta-lhe a essência de tudo, falta-lhe o Menino Jesus.

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