Nesta edição da Gala do Fado, que teve a parceria do Museu do Fado e o apoio da Antena 1, como Rádio Oficial, e da Rádio Movimento, o presidente da Voz do Operário, Manuel Figueiredo lembrou o papel da instituição que dirige na defesa do Fado. Primeiro, da sua dignidade enquanto expressão da cultura operária, depois como uma das expressões maiores da cultural portuguesa, após Abril de 1974, libertando-o do regime que o constrangia e, mais tarde, franqueando o acesso ao acervo bibliográfico da Voz do Operário à candidatura que culminou com a classificação do Fado, por parte da UNESCO, como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Há, pois, ao longo da vida da instituição Voz do Operário e do Fado, um diálogo permanente entre ambos e as Galas vêm sendo a tradução disso mesmo. Nesta edição, a trilha sonora, da responsabilidade de José Manuel Duarte, na guitarra portuguesa, de Pedro Soares, na viola de fado e Nuno Lourenço na viola baixo, foram a passadeira vermelha para um desfile de vozes que prometem outras que se confirmam. Carina Mateus abriu a Gala como artista convidada, mas é neste evento do Fado que muitas dessas vozes que soltam os primeiros acordes acabam por se confirmar.
Cristina de Sousa, a fadista penafidelense dividiu o Prémio Revelação com Delgado, mas foi ela a primeira a subir ao palco. Cristina abandonou a carreira de professora para abraçar a de fadista, mas nem por isso se pode dizer que a troca foi vantajosa do ponto de vista das condições de trabalho, foi essa a mensagem deixada pelo presidente do Sindicatos dos Trabalhadores do Espetáculo dos Músicos e do Audiovisual, Pedro Madeira que subiu ao palco com Rui Dias, da Direção da Voz do Operário, para entregar o galardão a Cristina de Sousa. Rui Dias lembrou que o galardão atribuído ao fado premeia o artista, mas também todo o trabalho que esses artistas desenvolvem, com paixão, mas muitas vezes pouco dignificado e sem direitos.
Interpretando dois temas do seu disco “As Rosas são Amor”, um disco que tem a participação de, entre outros, Amélia Muje, Cristina de Sousa foi o primeiro prémio a ser entregue na Gala, um prémio que partilhou com João Delgado. Um fadista que deu os primeiros passos enquanto interprete do fado, nas redes sociais e depois numa rádio. Lançou em 2023 o seu primeiro trabalho que se chama: “Tua sombra”.
Da revelação ao tributo, a Gala do Fado d’A Voz do Operário consagra uma carreira de 23 anos dividida entre o fado e a medicina, entregando o prémio Tributo a Kátia Guerreiro e o prémio solidariedade ao actor Joaquim Nicolau, que foi padrinho da Marcha Infantil d’A Voz do operário, lembraria o presidente da instituição, Manuel Figueiredo que entregou o prémio a Joaquim Nicolau.
Mas o Prémio Poesia e Literatura foi para um dos grandes responsáveis pela classificação do Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade, responsável também por uma parte importante do trabalho bibliográfico existente sobre a História do Fado, e, sobretudo pelo trabalho de investigação sobre as origens e a evolução desta expressão cultural portuguesa. Rui Vieira Nery dedicou e dedica, como referiu, muito da sua vida de trabalho no “resgate da memória do fado operário, do fado que ao longo do século XIX e início do século XX era a canção dos pobres, dos excluídos, dos oprimidos, dos explorados, dos marginais e, A Voz do Operário foi o espaço em que muitos deste fados de empenhamento político, de esperança de mudança, de esperança de justiça, tiveram lugar”.
Foram ainda premiados, Marco Oliveira e Marta Pereira da Costa, com o Prémio Compositor, Ana Maurício, com o Prémio Lisboa, Tininha de Alfama com o Prémio Popular, Fernando João e Teresa Siqueira com o Prémio Carreira, a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado com o Prémio Divulgação e Maria Mendes com o Prémio Artes e Espetáculo.
A Gala contou com a participação de Carina Mateus, Hélder Moutinho, Jorge Goes, Luís Matos e Nani Medeiros.